COMENTE

Sua opinião é importante. Comente, critique, sugira, participe da discussão.



segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

COMPRANDO LIVROS

Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – Http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br

Participando da Feira do Livro de Florianópolis, perto do Natal, ouvi coisas, digamos boatos, que conseguiram me deixar estarrecido. Já não me surpreendo com algumas coisas que a “cultura oficial” faz acontecer por aqui, mas indignado não há como não ficar. Gostaria de pensar que são apenas boatos, mas não tenho mais essa ilusão. Aquele chavão que diz que “onde há fumaça há fogo” infelizmente se aplica por aqui.
Vocês se lembram do edital para compra de livros, pelo Estado – que escolheu 300 exemplares de dez livros de autores catarinenses para distribuição, pela FCC, às bibliotecas municipais catarinenses? O autor, para concorrer no edital, precisava juntar 9 (nove) exemplares de sua obra à inscrição. No regulamento do edital constava que esses livros seriam incorporados ao acervo da Biblioteca Pública do Estado. Foram 172 livros inscritos, o que dá um total de 1.548 livros. Só que os livros ainda não foram entregues à Biblioteca Pública, passados meses do resultado do edital. Pior: uma amiga gaúcha afirma ter visto, no stand de Santa Catarina, na Feira do Livro de Porto Alegre, um livro de autor catarinense que foi inscrito para o edital. Só que ele não foi à feira do livro gaúcha e não encaminhou nenhum exemplar. O stand onde a leitora gaúcha teria visto a obra inscrita no edital era da Fundação Catarinense de Cultura, a promotora da seleção dos livros.
Mas tem mais: ouvi, em dezembro, em plena feira do livro de Floripa, que a FCC teria cogitado de colocar à venda, no stand da FCC da edição daquele evento, alguns dos livros inscritos no edital de seleção dos 10 livros de autores catarinenses promovido por ela, livros que devem ser destinados à Biblioteca Pública Estadual. Nem fui conferir no stand da FCC e nem sei se havia stand da FCC naquela feira, tão indignado fiquei.
E, para completar, soube que o Estado está comprando mais centenas de milhares de livros para distribuição às escolas. Não sei se isso é bom ou mal. Já aconteceram umas três compras milionárias de livros pelo Estado, uma delas aquela do livro do Tezza selecionado para o Vestibular, que foi considerado impróprio para os alunos do segundo grau e, por isso, recolhido. Posteriormente foi distribuído às centenas para as bibliotecas municipais. Centro e trinta mil exemplares do mesmo livro para duzentas e poucas bibliotecas dá muito livro igual para uma mesma biblioteca, não é mesmo?
E houve, ainda a compra de milhares de exemplares de uma caixa com 12 livros, no ano passado, se não me engano. Agora o boato de que estariam sendo comprados milhares de exemplares de alguns livros que não consegui saber quais são.
É interessante como essa Secretaria de Estado da Cultura aqui de Santa Catarina tem tanto dinheiro e como essas compras milionárias são autorizadas e feitas sem nenhuma divulgação, sem nenhuma prestação de contas.
Como disse no início, gostaria que tudo fosse apenas boato.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

OLHAR E VER


Por Luiz Carlos Amorim - Escritor - http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/

Voltando de Corupá, no norte da nossa Santa e bela Catarina, numa manhã luminosa deste final de dezembro, não pude deixar de agradecer ao Criador por meus olhos míopes. Vendo a profusão – eu diria um festival – de jacatirões floridos colorindo as matas dos dois lados da BR 101, da BR 280, da SC 413 (e tantas outras que cortam o estado), dei-me conta do valor dos meus olhos, mesmo que já estejam gastos pelo tempo, que já não sejam mais tão eficientes, que eu tenha que usar óculos.
Não me imagino sem poder enxergar esse espetáculo vivo que a Mãe Natureza nos oferece, essa festa de cores e luzes que a generosidade dessa árvore majestosa que é o jacatirão nos proporciona.
Tenho quase certeza de que o Criador escolheu a flor do jacatirão para enfeitar a nossa velha Terra para a chegada do seu filho a este mundo. E é tão pródiga essa beleza que Ele nos legou, que outras árvores esplendorosas como o flamboiã juntam-se ao jacatirão, nesta época de Natal e de ano novo chegando, para colorir ainda mais as nossas matas, nossos caminhos, nossos jardins e nossas casas.
Então agradeço, todos os dias, por meus olhos que podem olhar e ver essa natureza de beleza incomensurável. Por que não basta apenas poder olhar, é preciso olhar e ver.
Você, leitor do norte de Santa Catarina, olhe pela janela de casa, pela janela do carro, olhe para os lados quando estiver caminhando, que você certamente vai ver, nem que seja ao longe, uma mancha vermelha no verde da mata ou simplesmente à beira do caminho. São os jacatirões. Olhe e veja. Mais de perto, é um degradé que vai do branco até o vinho. E lembre que aquela é uma mensagem pejada de votos de Feliz Natal e de um Ano Novo Próspero, de um Menino Eterno que está nascendo mais uma vez e de seu pai, que ainda acredita em nós.

sábado, 12 de dezembro de 2009

ÁRVORES DE NATAL


Por Luiz Carlos Amorim - http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/

Estávamos no inverno, mas sempre que saía de casa, para ir ao trabalho, à academia, à aula de inglês, ao supermercado, ou simplesmente para caminhar, encontrava no caminho, em algum jardim ou esquina, um pé de jacatirão. Eu já disse que era inverno? Pois é, e lá estavam elas, pequenas mas majestosas, às vezes nem tão pequenas, cobertas de flores de pétalas coloridas em tons que vão desde o branco até o vermelho.
Fiquei maravilhado com o fato de poder vê-las – as flores de jacatirão – em junho, julho, quando o frio do inverno não é propício a uma flor que eu reputava ser de um tempo mais quente.
Eu estava acostumado a tê-las a partir de outubro, na primavera e no verão. No norte e nordeste de Santa Catarina, as matas, as florestas, as encostas ficam tingidas de vermelho, lilás e branco, num espetáculo grandioso, numa deslumbrante festa de cores.
E esta encantadora e inigualável performance da natureza começa em meados da primavera, indo até o auge do verão, enfeite natural de nossas árvores de Natal, a explosão de cores para festejar a chegada dos novos anos.
Em janeiro, quando as flores estão acabando em Santa Catarina, recomeça o espetáculo no Paraná, em São Paulo e pelo Brasil afora, beleza que pode ser vista por todos que passam pela BR 101 e outras rodovias.
Por volta de abril, perto da Páscoa, as flores de jacatirão florescem no interior de Santa Catarina, mais ao sul, e também no Rio Grande ao Sul. Por isso, os pés de jacatirão têm também o nome de Quaresmeira: em alguns estados – e eu não vou enumerar, pois são muitos – os jacatirões florescem na quaresma, substituindo o verde das matas pelas cores das suas pétalas, pelos nossos outonos afora.
É uma flor de todas as estações e é uma árvore das mais belas, só se comparando à luminosidade de um ipê florido, quando todas as suas folhas desaparecem para dar lugar às pétalas amarelas.
A diferença é que esperamos a visão fantástica de um ipê faiscando luz dourada por um ano e só podemos ver este espetáculo por uma semana. Os pés de jacatirão, no entanto, florescem durante meses, são mais humildes, mas mais generosos, mais numerosos, mais freqüentes. Mais numerosos até que as azaléias, que também florescem no inverno, em julho, fechando de flores vermelhas, brancas ou rosas suas touceiras. Até porque a azaléia é cultivada nos jardins, enquanto os jacatirões, apesar de existirem, em sua versão híbrida, em muitos jardins – aqueles que florescem nos tempos frios – nascem e crescem livres pela natureza.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

PUBLICAÇÕES LITERÁRIAS ALTERNATIVAS

Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – Http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br

Recebi de uma amiga brasileira que vive no exterior, uma apreciação de quem está vendo de fora o panorama das publicações literárias e culturais no Brasil. Ela percebe que as revistas e jornais alternativos, publicados por pessoas ou grupos ligados à cultura, mas que não têm nenhum apoio da “cultura oficial”, são na verdade aqueles que dão impulso ao desenvolvimento da literatura brasileira.
Sempre defendemos essa idéia, de que é através das publicações alternativas, de grupos alternativos, que muitos autores de talento são revelados. Houve época em que existiram muito mais páginas culturais e suplementos literários nos grandes jornais, isto é: havia muito mais espaço para a literatura nos meios de comunicação em massa. Além dos jornais, existiram bons programas na televisão, programas de rádio onde se declamavam poemas, etc. O tempo foi passando e as páginas foram sumindo, os suplementos foram rareando e o que perdurou, mesmo, foram as publicações alternativas. Até os jornais culturais das imprensas oficiais dos estados sumiram, mesmo sendo custeados com recursos públicos e publicando normalmente os mesmos autores, quase sempre ligados à “cultura oficial”.
Então aplaudo o trabalho da escritora Teresinka Pereira sobre escritores, poetas, artistas e editores alternativos do Brasil, pois é um reconhecimento que eles merecem, por manter espaços valiosos em prol da divulgação do novo que aparece na arte literária.
Apesar de viver nos Estados Unidos há vários anos, ela mantém contato com grande número de agitadores culturais deste nosso imenso Brasil e sabe o que está acontecendo. E olhar de fora, ter uma vista panorâmica do cenário literário brasileiro estando longe, apenas observando as manifestações culturais, vendo com lucidez e reconhecendo o trabalho desses “heróis na batalha contra a ignorância, a inaptidão e a indiferença da política do governo” é, no mínimo, meritório.
Ela reconhece o valor destes abnegados e faz uma lista das publicações brasileiras existentes, num trabalho completo, dando, inclusive os endereços.
Transcrevo um trecho do artigo da escritora, com o qual não é preciso dizer mais nada: “Aos leitores de colunas literárias, dos suplementos e das revistas que contém poesia e artigos de literatura, não é necessário lembrar a importância dos mesmos. Embora nos países capitalistas sempre se fale de liberdade de imprensa e de pensamento, o que vemos é sempre o contrário do que dizem. O governo não faz investimentos na literatura porque diz que os escritores sempre pertencem à esquerda radical ou são anarquistas e usam a pena para falar mal dos políticos eleitos. E mesmo que assim não fosse, não há ajuda para publicações literárias.”

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

LIVROS SEM CUSTO

Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – Http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br

Uma lei que visa gerar oportunidade de publicação de obras para escritores catarinenses em geral, que não têm condições de custear a edição do próprio livro, que visa também fomentar ações de incentivo à cultura e à literatura foi aprovada, recentemente, pela Assembléia Legislativa. Falta ser sancionada pela governador, ainda, o que se espera que aconteça brevemente.
Trata-se do Programa 100 Cópias, Sem Custo, projeto que é muito bem recebido pela classe literária catarinense. O programa autoriza a Imprensa Oficial de Santa Catarina a publicar obras de autores catarinenses. Mas não é apenas e simplesmente isso. A primeira edição, os cem primeiros exemplares impressos de obra avaliada e aprovada sairão de graça para o autor. Cada escritor terá direito de imprimir gratuitamente as cem primeiras cópias do seu livro.
A avaliação do material enviado para a IOESC a fim de ser publicado será realizada por um Conselho Editorial vinculado à Secretaria de Administração do Estado, composto por representantes das secretarias de Administração, de Turismo, Cultura e Esportes, da Fundação Catarinense de Cultura e por um representante do Conselho Estadual de Cultura.
A idéia do projeto é ótima, promete dar oportunidades aos autores catarinenses que não conseguem editora para publicar suas obras, nem apoio cultural oficial ou de empresas privadas. Não está vigorando ainda, mas depois de ser sancionada, espera-se que seja cumprida e não aconteça o que aconteceu com a Lei Grando, que ficou sem ser cumprida por quase vinte anos.
E, importante, se ela vigorar e for cumprida, que dê oportunidade para os novos talentos das letras catarinenses.
E esperemos que o Conselho Editorial que vai selecionar as obras não seja composto pelas mesmas figuras que escolheram os livros do primeiro edital da Lei Grando, em 2009, ou da comissão que escolheu a si mesma para o Estado levar à Feira do Livro de Porto Alegre. Entre outras coisas.
Esperemos que funcione.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

QUINTANA, AS BORBOLETAS E NÓS

Por Luiz Carlos Amorim - Escritor - http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/

Numa Feira de Rua do Livro de Florianópolis, há algum tempo, encontrei lançando um livro dela, a terceira edição do infanto-juvenil “A Vitória de Vitória”, a minha amiga escritora Urda Alice Klueger, uma das maiores representantes da literatura catarinense, romancista e cronista de sucesso comprovado.
Estávamos autografando nossos livros no mesmo horário, embora em estandes diferentes. O livro de Urda é uma bem sucedida incursão dela no gênero infanto-juvenil, ela que tem vários romances publicados, alguns já considerados clássicos da literatura de nosso estado, como “Verde Vale”, “No Tempo das Tangerinas”, “Cruzeiros do Sul”. O meu era um volume de crônicas, “Saudades de Quintana”, uma homenagem ao poeta maior, pela passagem do centenário do seu nascimento.
Até aí, nada em comum. O que descobrimos, uma tremenda coincidência, é que uma máxima de Quintana, que eu usei na página de dedicatória do meu livro em lançamento foi exatamente a mesma que Urda usou na referência de uma crônica belíssima, como citação, lá embaixo do título, antes de começar o texto. A crônica era inédita, recém escrita, e ela a tinha na bolsa, ainda manuscrita. Queria lê-la para nós em primeiríssima mão e o fez em plena efervescência da feira do livro. A máxima de Quintana que nós dois usamos é esta: “O segredo é não correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim, para que elas venham até você...”
A crônica de Urda, linda, cheia de poesia como só Urda sabe fazer uma prosa, falando de borboletas, de amor, de jardim e de flores, de emoções e sentimentos, vocês já devem ter lido, provavelmente, que ela foi publicada em vários lugares.
Mas nada é igual a ouvir na própria voz da autora uma das melhores crônicas que ela já escreveu. É um privilégio único, que não posso dividir com vocês, infelizmente, ouvir a interpretação do texto pela própria autora, impregnada de emoção e de paixão. Apenas Eliane Debus e Eloí Bocheco, que estavam conosco, naquele momento é que também puderam usufruir.
O poeta está no andar de cima, poetando em companhia de Coralina, Pessoa, Cruz e Sousa, mas continua vivo aqui, através da sua poesia, emocionando e inspirando a todos nós.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

"A SÉTIMA CAVERNA"


Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/

O escritor Harry Wiese, integrante do Grupo Literário A ILHA, foi um dos destaques apontados pela Academia Catarinense de Letras, pelo seu livro "A Sétima Caverna", na categoria romance. A ACL premia, todos os finais de ano, os destaques culturais nas categorias conto, poesia, romance, crônica, ensaio e história e dá o Prêmio Othon Gama D´Eça a uma pessoa ou entidade.
Eu li o romance logo que ele foi publicado pela Editora Hemisfério Sul, no início do ano e a obra realmente merece o destaque.
Isso me remete – não posso evitar - ao edital da Fundação Catarinense de Cultura, em meados do ano, para selecionar dez livros de escritores catarinenses para comprá-los e distribuí-los às bibliotecas municipais de todo o Estado. Por que será que, sendo um dos melhores livros publicados nos últimos tempos, ele não foi selecionado? Ele estava inscrito...
Mas a verdade é que foi muito bom constatar uma boa surpresa literária, quando acabei de ler "A Sétima Caverna", romance de Harry Wiese, de Ibirama. O livro é muito bom, é original e prende a leitor do começo ao fim. O autor, também poeta e contista, nos presenteia com um menino apaixonado por livros e por natureza que, desde muito pequeno, queria ser cientista. Esse menino conta a sua fantástica história vivida em Getúlio Vargas, bem no interior, ao lado da Mata dos Bugres e ao pé da Serra do Mirador, seus santuários ecológicos. Pois foi na Serra Mirador que ele descobriu a Sétima Caverna, o fim de um mistério que começou com uma história de amor como nunca se viu antes, parodiando o menino protagonista.
É muito interessante o fato de o autor construir um romance de fôlego com tão poucos personagens, num cenário quase único e ao mesmo tempo conseguindo ser tão denso. As personagens são fantásticas. O menino, o artesão, o cachorro Fidélis, que rouba a cena em algumas partes do romance, me conquistaram de imediato. Que animal fantástico e que trajetória espetacular a de Fidélis. Assim como a história de confronto do homem branco com o índio, com uma música de violino de fundo. Triste e bela.
Foi um verdadeiro e grande prazer ler "A Sétima Caverna". O respeito à natureza e à vida, seja do ser humano ou dos animais são constantes nesta obra. A sensibilidade do autor nos remete a um universo mágico que se espalha por toda a mata e pela serra, surpreendendo o leitor a cada capítulo.
É o primeiro romance de Harry, que já era experiente prosador como contista, mas ele revela, em “A Sétima Caverna”, um grande domínio da narração mais longa, da criatividade e da imaginação. Sua história é um hino de amor à natureza e aos índios, que nos legaram essa nossa terra, e à vida.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

LIVRO & CONTEÚDO

Por Luiz Carlos Amorim - Escritor - http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/

Um amigo escritor comentava comigo, outro dia, sobre a sua decepção com feiras, bienais e lançamentos: publica-se muito, mas a qualidade de grande parte dos livros é mínima. Divulga-se quantidades cada vez maiores de livros vendidos nos grandes eventos, mas a parcela maior dessas vendas é de livros infantis, vendidos a um, dois ou três reais, sem se levar em conta que muitos desses livros para crianças são aquelas fábulas tradicionais que já não exigem o pagamento ao autor (direitos autorais).
Outro tipo de livro que se vende muito em feiras e bienais são os esotéricos, de auto-ajuda e até os religiosos. Aliás, descobriu-se, há poucos anos, uma fórmula que é sucesso garantido: combinar fotos, de preferência de animais e crianças, com máximas, pensamentos, ditados populares e/ou citações. Os livros deste tipo vendem como água.
Livros literários parecem ser os que menos vendem. A não ser os de autores consagrados. E a oferta é grande. Há um sem número de livros de autores novos sendo lançados todos os anos e o gênero mais praticado é a poesia. Em menor escala existem também o romance, a crônica, o conto, o ensaio. Mas o conteúdo dessas obras nem sempre vale o que se paga por elas. A poesia nem sempre é poesia – há casos em que é apenas prosa colocada em forma de verso – e ruim. Outras vezes há a pretensão de que para se fazer poesia deve-se usar a rima e aí o resultado é desastroso, pois a rima pobre, com um tema mal desenvolvido e um mau domínio da palavra não pode ajudar em nada, pelo contrário. Há, ainda, aqueles que acham que empregar palavras “difíceis”, substituir palavras comuns e inteligíveis por palavras fora de uso, resulta em maior qualidade do seu texto. Este último caso existe tanto na poesia como na prosa, para desgraça dos leitores.
Em se falando do livro literário, o gênero mais popular, mais lido, é o romance, até porque tem mais representatividade, digamos que é tido como padrão, com autores consagrados que vendem pelo próprio nome. E também é um gênero que produz muitos títulos novos todo ano. Como as grandes editoras dificilmente publicam obras de escritores novos, muita coisa sai como edição do próprio autor. E aí reside um grande problema, que é a seleção, a avaliação apropriada para se saber se esta ou aquela obra está pronta para ser publicada, se vai agradar a um mínimo de leitores. Não que as editoras também não cometam erros, pois há livros com o selo de casas publicadoras conhecidas, que pecam por falta de qualidade no conteúdo.
Quando se faz uma edição própria nem sempre o autor entrega os originais para um bom revisor, talvez por inexperiência ou até por segurança em excesso. E isto é fundamental. Também é preciso que os originais sejam lidos por pessoas habilitadas a dar opinião sobre a qualidade do texto, sobre o estilo, linguagem, enredo, se eles estão de acordo ou não.
Porque se não fizermos isso, corremos o risco de gastar dinheiro com a publicação de uma obra que não está madura o suficiente para ir a público. E é o que tem acontecido, e muito, não só nas edições próprias como também nas editoras ligadas ao poder público ou à política. Publica-se “obras” deste ou daquele figurão apenas para engordar currículo, gastando o dinheiro do contribuinte com coisas ruins.Existem também obras de contos e crônicas de autores que talvez precisassem ler mais e praticar muito mais a sua escritura para selecionar textos que pudessem compor um livro. Sei bem como é porque já cometi este erro. Meu primeiro livro de contos eu nunca teria publicado, se tivesse esperado um pouquinho mais.
Mais do que nunca, temos que saber escolher o que ler. Infelizmente, só poderemos ter opinião formada sobre um livro depois de lê-lo.