Por Luiz Carlos
Amorim – Escritor – Hrrp://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br
Xuxu, a nossa pinscher que estava quase completando vinte
anos de idade, mas mesmo assim era o bebê da nossa casa, foi-se, no dia
seguinte ao Dia dos Pais deste ano de 2014. A nossa casa, que já parecia grande
demais, depois que a nossa filharada saiu pelo mundo para viver a vida deles,
ficou maior ainda.
É, a casa ficou silenciosa, mas ainda ouço o latido abafado
dela, quando estava sonhando. No meio do silêncio da madrugada, acordo com o
barulho dela andando pela casa, esbarrando nas coisas, cega que estava há algum
tempo. As unhas dela, que não gastavam porque ela já andava pouco, faziam
barulho – um tic-tic característico – no piso.
À noite, quando vou ao banheiro ou à cozinha para beber
água, levanto o pé, no escuro, para não derrubar os tapumes – almofadas de
espuma – que espalhávamos pela casa para que ela, a nossa Xuxu, não batesse nas
paredes. Tapumes que não estão mais lá...
Às vezes, ainda a procuro, para saber como está e me lembro
que não está mais. Já me surpreendi procurando o pote de água dela – ela tomava
muito água – para ver se não estava vazio. Levanto do sofá, de vez em quando,
para ver se ela está no cantinho dela e disfarço, ao lembrar que todas as
mantas, almofadas, todo o aparato para cuidar dela, tudo foi guardado, porque
ela não está mais aqui.
Saudade, mais uma saudade que vai doer um tantão, por um
tempo que não tem tamanho. O coração fica apertado, a saudade fica ali,
latejando, e eu penso que não dei todo o carinho que Xuxu merecia. Tanta lealdade,
tanta fidelidade, tanta amizade, tanta alegria, tanta ternura, que acho que não
retribuímos à altura.
Queria que Xuxu tivesse ido serenamente, que não tivesse
sofrido, indo devagarinho, devagarinho. A dor ia ser a mesma para nós, mas não
para ela. Espero que haja um céu para os cães, um céu onde já estaria Dona
Menina, a mãe de Xuxu, que morreu aos doze anos, bem como eu sempre ouvia que
os cachorros iam: uma manhã, ela foi cavar no jardim, embaixo de um arbusto e,
quando a vimos fazer aquilo, brigamos com ela. Ela foi para debaixo da nossa
cama e não saiu mais de lá. Fomos ver o que ela tinha e ela já estava indo.
Quando chegamos ao veterinário, ela se foi. Serena, sem sofrimento, como deve
ser. Foi uma tristeza para toda a família, mas para ela foi rápido. Quisera que
tivesse sido assim com Xuxu.
Saudade, Xuxu. Saudade, dona Menina. Muita saudade. Nossa
casa está tão grande e tão vazia... Às vezes a tua falta, Xuxu, faz meus olhos
ficarem aguados, sabe? Mas é só um cisco no coração, eu disfarço e enxugo.