A quaresmeira, tipo de jacatirão que tem esse nome
porque floresce na quaresma, está em plena florescência, uma temporada
especialmente colorida, talvez para compensar os tempos cinzentos que vivemos.
Como será a Páscoa, com tantas pessoas doentes e outras morrendo? Haverão
quaresmeiras suficientes para colorir tempos tão escuros?
Mas elas, as flores da Páscoa estão aí para nos
lembrarmos que a vida continua, para nos lembrarmos de um Menino que nasceu
para nos trazer esperança e fé e que essa esperança e essa fé é que podem nos
dar alento para enfrentar o que nos fere.
Em Rancho Queimado, na grande Florianópolis, há um
trecho da 282 que está uma beleza, tingido de vermelho e vinho dos dois lados
da estrada. Na serra gaúcha também há muitos deles, principalmente nos jardins,
e a quantidade de flores é um espetáculo à parte.
Este tipo de jacatirão, a quaresmeira, tem as flores
menores do que o jacatirão nativo, que floresce na primavera/verão, mas é mais
colorido, tem cores mais vivas, mais vibrantes. Então não dá pra não notar uma
quaresmeira fechada de flores. O manacá-da-serra, outro tipo de jacatirão que
floresce no inverno, é mais parecido com o nativo.
Fico encantado com as manchas vermelhas que as
quaresmeiras deixam na mata, nos jardins, nas beiras das estradas. Mas não é um
encantamento comum, simples, é um encantamento mágico, pois meus olhos são
atraídos pelas cores das pétalas vermelhas e lilazes, no meio do verde, e meu
olhar flutua em direção a elas, como se minha alma seguisse com ele em direção
às cores. E então meus olhos brilham, como faróis, e o raio de luz é o canal de
ligação com meu coração.
É assim que me sinto encantado com a generosidade
das flores do jacatirão, encantamento que envolve meu olhar, minha alma, meu
coração. Assustado com este tempo de pandemia que vivemos, nutro-me do
encantamento das cores do jacatirão de Páscoa.
E parte deste encantamento, ainda, é o porquê de eu
chamar o jacatirão de “flor da Páscoa”. Acho que ele é a flor de Cristo,
também, porque o jacatirão nativo está florescido em dezembro, quando nasce o
Menino Jesus para todos nós. E uma variedade desse mesmo jacatirão, a
quaresmeira, está florescida na Páscoa, quando aquele Menino, feito homem, é
cruscificado e sobe aos céus. O jacatirão está presente tanto na chegada quanto
na partida do Menino, filho do Pai. Não é uma flor divina?
Pois a Páscoa não é simplesmente ovos e coelhos de
chocolate. A palavra Páscoa vem do hebraico e significa "passagem".
Os judeus comemoravam esse dia antes mesmo do nascimento de Cristo, desde há
muito tempo, então com outro sentido: o de liberdade, ou seja, a libertação de
anos de escravidão no Egito. Para os cristãos, a Páscoa passou a celebrar o
renascimento de Cristo, a passagem dEle deste mundo para o Pai.
Páscoa, então, é renascimento, renovação, a festa da
libertação. Época de repensar a vida e renová-la, de refletir sobre o Menino
que se tornou homem, morreu e ressuscitou, elevando-se ao céu, provando aos
homens que há uma força divina, maior, regendo nossos destinos.
De maneira que Páscoa é fé em uma força maior que
rege nossos destinos e é também jacatirão, a flor que anuncia o Natal e
enfeita a Páscoa, que anuncia a chegada e a elevação do Menino filho de Deus.
Então vivamos a Páscoa, pois estamos vivendo um renascimento, que pode ser a
libertação daquilo que nos abate.
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