Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e
revisor – Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, com 36 anos de
trajetória. Cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras. http://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br
A educação
brasileira está falida, não só o ensino médio, mas toda a cadeia. Ela foi
desconstruída, destruída nas últimas décadas, por governos irresponsáveis, sem
um mínimo de senso público e comprometimento com o futuro de nosso país e de
nossa gente. Fizeram sucessivas mudanças oficiais na educação, no ensino de
maneira geral, que não foram para melhor, pelo contrário. Hoje temos crianças
no 3º. ou no 4º. anos do primeiro grau que não sabem ler e escrever. E temos
alunos de séries mais altas que não sabem se comunicar através da escrita e, às
vezes, até através da fala.
Então, para
salvar a educação brasileira da falência total – aleluia! - o governo aparece
com uma Medida Provisória para a Reformulação do Ensino Médio, que prevê a
flexibilização do currículo e, consequentemente, do conteúdo e de tudo o mais.
Tudo vai mudar, conforme o nosso Presidente Temer. Temerário, não? Trocadilho
infame à parte, a pergunta que nos vem é: a “reformulação” vai melhorar ou
piorar o que já é ruim? Há que se prestar bem atenção no que tivemos até aqui e
no que se propõe.
Hoje, os
estudantes do ensino médio tem 13 disciplinas compulsórias. Com a nova
diretriz, o aluno poderá (ou deverá) escolher de cinco áreas a que mais lhe
interessar: linguagens, matemática, ciências humanas, ciências da natureza e/ou
ensino técnico. No primeiro ano, as matérias serão as mesmas para todos os
estudantes, mas ao término dele terão que escolher uma área para os próximos
anos. Cinquenta por cento do currículo terá que obedecer à Base Nacional
Curricular Comum, quando ela for aprovada, pois ainda está em vias de estudo e
não se sabe quando vai ficar pronta. Talvez para 2017, o que significa que a
implantação da medida será para 2017 ou 2018. Os outros cinquenta por cento do
currículo será definido pelas redes de ensino, particulares e públicas. Muito
vago. Matérias como Matemática, Português e Inglês (língua estrangeira) serão
obrigatórias em todas as áreas.
Outra
promessa da medida é elevar a abrangência do ensino integral para os estudantes
de segundo grau. O prometido é aumentar de 800 para 1400 horas anuais de aula,
tornando o ensino integral. A meta é alcançar 25% dos estudantes brasileiros do
ensino médio até 2024. Hoje este índice é de apenas 6%. Com que dinheiro é uma incógnita, pois os
Estados estão falidos e eles são responsáveis pelo ensino público. E a União
diminuiu a verba para a educação.
A verdade é
que o Ideb teve o pior resultado dos últimos tempos e o Enem confirma o que
dissemos lá em cima: o ensino médio tem o mais desastroso resultado. A nova
medida mudará isso? Há muitos questionamentos que não foram respondidos.
A impressão
que a nova medida provisória deixa é de economia, com a nova sistemática de
cinco áreas para o ensino médio. Com menos disciplinas, precisaríamos de menos
professores. Será? Mas como serão oferecidas todas as áreas? Todas as escolas
terão todas as áreas para oferecer ou cada escola terá uma ou outra área? E quão
longe estará do estudante a escola com a área que ele escolher, para depois do
primeiro ano de segundo grau? Quais as matérias que cada escola oferecerá em
cada área, já que metade será escolhida por ela? Haverá equiparação entre as
mesmas áreas oferecidas em diferentes escolas, sejam elas públicas ou
particulares?
E a
história de que prevalece a “experiência” para os professores da área técnica
(só a área técnica?), não significa que os professores não terão a qualificação
necessária? Já vemos a falta de qualificação, de valorização, de remuneração
entre os professores do primeiro grau, talvez a etapa mais importante da
educação, pois é onde tudo começa, é a base de tudo.
Há muitos
senões e as perspectivas de futuro para a educação brasileira só ficam mais
negras, mais inseguras, mais confusas. Prometem muito, mas mudam para pior o
que já está péssimo. Há que se pensar muito no futuro da educação e no resgate
do ensino em nosso país. Ela, a educação, precisa mudar, mas para melhor, para
melhorar a vida do cidadão brasileiro. Está faltando consistência, e muita, na
tal medida provisória. E não sou eu que estou dizendo o isso. O Brasil inteiro
está protestando para fazer entender isso.
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