Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor
e revisor – Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 37
anos de literatura neste ano de 2017. Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de
Letras. http://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br – http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br
Hoje,
falando de livros, mencionamos de novo que o brasileiro lê pouco, que o livro é
caro e outros clichês sobre os quais acabamos martelando, inconformados. Minha
amiga Norma, escritora que faz a crônica da sua terra, a capital catarinense, e
o faz muito bem, com a sua prosa poética, pediu a palavra para dizer que não,
que o livro não é caro. E explicou: compramos uma pizza, pagamos setenta,
oitenta reais e num instante a consumimos. O livro, no entanto, pode sair menos
que isso e dura muito, dura infinitamente. E um mesmo exemplar é lido por
muitas pessoas.
Eu quase
interrompi, dizendo que não, mas ela continuou embasando sua afirmativa e eu
a deixei terminar, pois é importante
que possamos pesar pontos de vistas diferentes e não é elegante ficar
interrompendo o fio de pensamento. Mas não terminei o que queria dizer. Eu ia
dizer que acho que o livro é caro, sim, mas não para mim ou para Norma.
Concordo com ela, pois já comprei livros tão bons que o preço que paguei por
eles pareceu nada. Mas o problema é que para a maioria da população o livro é
caro, pois eles não têm dinheiro para comprá-lo. Pior: eles não tem educação
para gostar de lê-lo. Se estivéssemos num país onde a educação – e, conforme o
dicionário, incluo na educação o ensino
– não fosse sucateada, destruída pelo próprio Estado que devia zelar por
ela, fazê-la melhor, teríamos cidadão com mais cultura e mais conhecimento, que
produziriam mais, teriam melhores trabalhos e melhores salários, uma vida
melhor e mais digna e conseguiriam comprar livros, além de gostar de ler.
E se todos
tivéssemos uma melhor educação, teríamos uma parcela muito maior da população
que gostaria de ler, que teria o hábito de ler, e as edições seriam muito,
muito maiores, consequentemente o livro seria bem mais barato. Pois quanto
maior a edição de um livro, menor o preço unitário.
Se o Brasil
pudesse oferecer um melhor ensino às suas crianças, teríamos melhore escolas,
com conteúdos programáticos que possibilitassem mais tempo para aulas de
leitura e literatura, espaço que hoje em dia quase não existe. É claro que
existem alguns professores de português dedicados e abnegados que ignoram os
conteúdos programáticos e conseguem incutir o gosto pela leitura em seus
alunos, ao invés de obrigá-los a ler, o que causa aversão pelo livro, não raro.
São poucos esses professores ou professoras, mas eles existem. Que levam a obra
do autor da sua terra e da terra dos alunos para a sala de aula, estudam-na e
depois trazem os autores para interagir com os alunos. Professoras como Mariza,
Luciane, Edna. Aqui em Santa Catarina e em Minas e em outros pontos do país.
E
infelizmente não sei até aonde podemos afirmar que um mesmo livro que compramos
é lido por muitas pessoas,infelizmente. Queria que um mesmo livro, comprado por
um cidadão comum fosse lido por toda a família, por dezenas de pessoas. Infelizmente, a família da pessoa que comprou
o livro pode ser grande, mas quem lê pode ser apenas o comprador, na maioria
das vezes. É claro que há excecões,
porque aqui em casa, quando a filharada estava em casa, um mesmo livro era
lido, às vezes, por todos os moradores. Quando o gênero coincidia com o gosto
de todos, é claro. E é uma pena constatar, mas as pessoas têm receio de
emprestar o livro, porque dificilmente ele é devolvido. Se ele fosse passado
adiante, tudo bem. Mas isso nem sempre acontece, ele fica preso em uma gaveta
ou prateleira qualquer. Então, pelo que tenho percebido em conversa com
diversas pessoas que compram livros, é preferível doar, que os livros podem vir
a ser lidos, oxalá, por mais pessoas. Para escolas, para programas que colocam
o livro em lugares públicos para as pessoas lerem e devolver ao local de origem
para que outras pessoas o levem. Mas como tenho visto, os livros saem das
estantes, mas não voltam, porque esbarramos de novo na educação duvidosa que
temos.
Queria ser
mais otimista e ver de maneira diferente, mas a realidade bate de frente com a
gente. Reafirmo, mesmo, que Norma tem razão: o livro não é caro. As pessoas é
que não têm as condições intelectuais e financeiras para adquiri-los. O Estado
é que não dá, para todos, a instrução e cultura suficientes para que os
cidadãos saibam o valor da leitura. Mas podemos insistir em mudar isso, indo às
escolas, nós, escritores, para divulgar a literatura. Isso pode começar uma
revolução. Ou não. Depende de nós.
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