Por Luiz Carlos Amorim
- Escritor, editor e
revisor, Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, com 36 anos de
trajetória, cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras. http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br
– http://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br
A Páscoa
está chegando e chega bem a propósito, pois o mundo esta precisando de
renovação, de renascimento, de libertação, tudo o que ela significa. O mundo
está por demais conturbado, o ser humano está perdendo a sua essência e a
violência e o ódio estão tentando calar a voz da paz, da harmonia, da
tolerância. Então precisamos, todos, refletir sobre o sentido da Páscoa e
procurar o caminho do renascimento deste nosso mundo, o caminho da união e do
perdão, da capacidade que ainda temos de sermos generosos, da conscientização
de que precisamos mudar.
Apesar de tudo isso,
Páscoa me traz a lembrança, mais uma vez do meu avô Lúcio.
Digo que a Páscoa faz que ele se faça mais presente na
lembrança, porque ele morava em Corupá, quando eu era criança, mas quando eu
tinha uns 6 ou 7 anos ele mudou-se para Joinville. Ele era ferroviário, assim
como quase todos na família, e a imagem dele chegando a nossa casa com uma
cesta de vime pendurada no braço direito não me sai da memoria. Nossa casa
ficava distante da estação ferroviária, em Corupá, mais ou menos uns dois
quilômetros. Mas lá vinha ele, a pé, com a cesta cheia de guloseimas para nós,
os netos. Ele trazia aquelas balas grandes e coloridas, do tamanho de um ovo de
galinha, que hoje já não existem mais, trazia coco Indaial, um coco amarelo do
tamanho de um ovo de galinha, também, com uma ou duas amêndoas dentro, do
tamanho de uma castanha do Pará, talvez, coisa que já não vejo há décadas,
infelizmente, e que na verdade se chamava babaçu. Trazia tucum maduro – uma
fruta parecida com butiá, mas preta - a gente come a casca e o coquinho que tem
dentro. Trazia goiabas, trazia maria-mole, trazia aquelas balas coloridas que
eram cortadas em fatias grossas, que tinham um desenho no interior, nem sei se
elas ainda existem.
Era uma festa a chegada do meu avô a nossa casa em
Corupá. Acho que ele ficava colecionando todas essas frutas e doces para encher
a cesta e, num seu dia de folga, tocar para Corupá para entregar tudo aquilo
pra gente. Coisas simples, mas que eram oferecidas com carinho e tinham um
valor incomensurável. Tinham um gosto de Páscoa, pois ele provava e renovava o
seu carinho pelos netos.
Hoje os avôs não dão, absolutamente, esse tipo de
presente. Hoje os avôs dão brinquedos eletrônicos, como jogos, smartfones,
tablets, consoles, etc. Mas aqueles tempos do meu avô eram felizes e dá uma
saudade muito grande.
Não lembro mais do rosto do meu avô, só lembro que ele
era careca, tinha apenas uma coroa ao redor da cabeça. Acho que lembro disso
porque também estou ficando careca e talvez fique igual a ele. E, engraçado,
apesar de não lembrar do rosto dele, eu ainda o vejo chegando com a cesta no
braço, cheia de oferendas. Como se fosse a Páscoa chegando. Saudade.
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