Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 41 anos em 2021. Http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br – http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br
Tenho visto algumas matérias sobre a “neutralização” do
gênero na língua portuguesa, no Brasil, algumas contra e algumas a favor. Digo
no Brasil, porque em Portugal não vejo isto. O que também não tenho visto é
alguém usar essa novidade, nem em jornais, nem em revistas, nem na televisão,
nem na internet, nem ao vivo e a cores. Tá certo que tenho mais de sessenta
anos, mas tenho muitos jovens nas minhas páginas em redes sociais, pois sou
professor e escritor. Importante frisar que leio meia dúzia de grandes jornais
brasileiros todos os dias.
Mas vamos ver primeiro o que é o “gênero neutro”, que alguns
insistem que são de emprego corrente, atualmente: “uso de feminino marcado no
caso de substantivos comuns de dois gêneros – exemplo: “ a presidenta” –
pergunto: vai ser “a estudante”, também?; emprego de formas femininas e
masculinas, sobretudo em vocativos, em vez do uso genérico do masculino –
exemplo: alunos e alunas, ao invés de Alunos!; inclusão de novas marcas no
final de nomes e adjetivos, como “x” e “@” – exemplos: “amigx, amig@” (que
coisa absurda, não? Isso não é linguística, nem gramática: o símbolo @ nem ao
menos é uma letra); ampliação da função de marcas já existentes, como a
terminação “e” – exemplo: “amigue”; e alteração na base de pronomes e artigos –
exemplo: “ile”, “le” (outra vez: que absurdo, nunca vi nada disso).
De novo: não vi, ainda, em lugar nenhum esses disparates
como “amigx”, “amig@”, “ile”, “nile”, “dile”, “aquile”, etc. Essa não é uma
questão linguística, pois essas novidades não são de uso comum, não são de uso
geral, pelo contrário, é de uso bem restrito. Línguística é o estudo da língua
como ela é falada, mas o presente caso da “neutralização” de gênero está se constituindo mais em uma
imposição, por que não é de uso geral. Para que querer fazer mudanças na língua
– mudanças que não são relevantes, nem inteligentes, nem necessárias – numa
época tão difícil, quando precisamos priorizar a educação, que está falida em
nosso país? Tivemos dois anos sem aula nas nossas escolas, infelizmente, devido
à pandemia, a educação já vem sendo sucateada de há muito tempo, o abandono do
ensino no Brasil é flagrante, então por que querer fazer mudanças, bagunçando
ainda mais o sistema linguístico? Não temos obrigação de saber a preferência
sexual de cada um e nem todas as pessoas homo querem ser identificadas, porque
o que fazem na vida privada é direito de cada um, não interessa a mais ninguém.
E se não soubermos isso, como usar as “neutralidades”?
Então o tratamento para as pessoas do “terceiro” gênero é uma questão de educação,
de novo, para não esquecer. E de
respeito. Precisamos tratar com respeito todas as pessoas, para merecermos que
sejamos tratados com respeito também. Se nos tratarmos com respeito, não é
preciso inventar palavras novas para identificar o “gênero” de uns e de outros.
Precisamos parar de dar destaque a debates sobre assuntos
que não são prioridade geral e dar importância a temas prementes, como o
resgate da educação no Brasil. E quando falo educação estou falando de ensino,
conforme reza o dicionário português. Ensino,
coisa tão menosprezada em nosso país. Há que se estruturar o ensino para
que tenhamos um povo que possa escolher o que realmente é prioridade e
assimilar, se for o caso, uma nova atualização na língua, desde que
linguisticamente amparada, é claro. Porque a mudança que querem fazer parecer
necessária é uma imposição arbitrária e descabida, beirando o ridículo.
Respeito quem acha que ela é necessária, mas respeito também a grande maioria
do povo brasileiro que nem sabe do que se trata. Que as mudanças sejam usadas
entre as pessoas que querem usá-las, tudo bem. Se o uso se generalizar, o que
duvido muito, quem sabe será o caso de voltar a discutir a sua inclusão?
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