Por Luiz Carlos Amorim - Escritor, editor e revisor, Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, com 36 anos de trajetória, cadeira 19 na Academia SulBrasileira de Letras. http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br – http://www.prosapoesiaecia.xpg.uol.com.br
Hoje é dia
7 de abril de 2020. Estamos desde o dia 17 de março recolhidos em casa, em
Lisboa, por causa do novo coronavírus, o Covid 19, a pandemia que invadiu o
mundo todo. Só se sai para ir ao supermercado, à farmácia, à quitanda, à
padaria, ao talho – desculpe, açougue -,ao posto de combustível. É claro que
quando se vai a um desses lugares, a gente dá uma sapeada para ver como está a
cidade, se tem mais ou menos gente na rua. E dá saudade de entrar na loja de
pastéis de bacallhau com queijo amanteigado da Serra da Estrela, nas tasquinhas
onde serviam o melhor peixe grelhado do mundo, dá vontade de ir à loja de ovos
moles, que fica aqui do outro lado da rua, mas não está abrindo, apesar de
vender produtos alimentícios. Além dos ovos moles, eles servem um bolo de
laranja em formato de rocambole que é uma coisa de outro mundo. Dá uma vontade
de ir passear à beira do Tejo e a gente até foi à Praça do Comércio, outro dia,
pra matar a saudade – foi uma turistada. Vontade de passear no Jardim da
Estrela, um parque belíssimo, muito arborizado, bem do tipo das praças ou
parques espanhóis, vontade de ir à Tapada das Necessidades, o jardim de dez
hectares do Palácio das Necessidades, O Parque Eduardo Sétimo, no final da
Avenida da Liberdade e tantos outros lugares, como o Oceanário, que fica no
Oriente, a parte moderna de Lisboa, o Jardim Zoológico, mas não dá. Precisamos
nos isolar para não deixar o vírtus de propagar ainda mais.
Então a
gente lê muito, brinca muito com o neto Rio, que faz um ano no dia 10 de abril,
escreve muito, também, e brinca com o Rio, vê filmes e brinca com o Rio. Ele é
muito divertido e a gente não sente o tempo passar. Aprende as coisas muito
depressa. Ultimamente, aprendeu a dar tchau e mandar beijinho.
Mas hoje
saí, que era preciso ir na mercearia/quitanda comprar frutas e verduras. As
ruas já estiveram bem mais desertas em dias passados, mas ainda tem pouca gente
saindo, acho que só para as necessidades mais prementes. É claro que ainda tem
um ou outro turista remanescente, mas são muito poucos.
Cheguei à
mercearia da dona Ana e tinha fila (ou bicha, como se diz aqui). Havia três
pessoas na minha frente e é claro que ficamos a quase dois metros uns dos
outros. Demorou bastantinho, pois as pessoas saem só o estritamente necessário,
então faz-se uma lista de um monte de coisas que é preciso comprar. Mas chegou
a minha vez e eu também tinha lista: comprei morangos – enormes e deliciosos,
agrião, couve, mandioca – que é importada do Marrocos, farinha de mandioca,
bananas, leite condensado, atum – que é uma beleza, aqui, etc. e esqueci de
comprar manga. Eu não gosto de manga, mas a filha e o Rio gostam.
Quando
voltava, passei por um senhor negro, já na melhor idade – a Mary adora que
digam que a terceira idade é “melhor idade” – que ia na minha frente
cantarolando, feliz da vida. Achei fantástico uma pessoa, acho que lá pelos
seus setenta, nos dias de hoje, tão bicudos, sair por aí de tão bom humor.
Apertei o passo para passar por ele e dizer-lhe “Bom dia!”, só para ouvir ele
desejar-me “Bom dia”, também, com toda aquela felicidade. Desejei que com o “bom
dia” dele, viesse um pouco daquela alegria espontânea, tão singela e tão
verdadeira.
Já em casa,
fizemos educação física na sala de casa, que a filha Daniela é educadora física
com mestrado em dança, tomei banho, almocei – quase cinco da tarde – e comi os
morangos deliciosos e enormes pensando naquele senhor feliz, apesar de qualquer
coisa – ele mancava - e não pude deixar de, logo em seguida, deixar tudo de
lado e escrever sobre ele, nesta crônica. Uma lufada de ar puro, nesses ares
atuais tão contaminados. Obrigado, senhor. Vou dormir mais feliz hoje.
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