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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

WILSON GELBCKE, IMORTAL




           Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 40 anos em 2020. Http://lcamorim.blogspot.com.brhttp://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br
 
Wilson Gelbcke, um dos membros mais ilustres do Grupo Literário A ILHA, nos deixou, recentemente: foi fazer prosa e poesia com Júlio Queiroz, Quintana, Coralina. Um grande romancista, um grande escritor da literatura produzida em nosso Estado, é um dos mais importantes representantes da literatura catarinense e brasileira.
   Produziu obras importantes dentro do gênero romance, como “A Máscara de Capelle”, seu primeiro romance, publicado em 1997, e desde então não parou mais. Em seguida veio “Vindita do Historiador”, um romance à altura de um Don Brown, “A terceira Moeda” e “Ás de Ouros”. Mas não foi só este gênero que o grande escritor praticou. Ele produziu infanto-juvenis, contos, poemas e biografias. Foi autor premiado e muitos outros prêmios lhe seriam concedidos, se todos os seus livros tivessem sido publicados por editoras de âmbito nacional.
   Gelbcke nasceu em São Paulo, em 1933, mas viveu grande parte de sua vida em Santa Catarina e produziu sua literatura aqui, depois que aposentou-se. Era um escritor ativo,  dinâmico e versátil, produzia constantemente e prestigiava os seus pares sempre que havia algum acontecimento literário ou cultural. Estava sempre presente às feiras do livro da região e nos encontros de escritores e lançamentos de livros. Era presença marcante em eventos que reuniam artistas e escritores e uma pessoa querida e respeitada por todos.
    Ele nos deixou em quatro de dezembro de 2019, aos 86 anos. Uma grande perda para a literatura brasileira e lusófona. Mas ele deixa a sua obra, 17 livros que o tornam imortal para todos os seus leitores e admiradores  e todos aqueles que amam literatura e que recriarão a sua lavra, ao lê-la. Um dos grandes escritores que já tivemos e continuaremos tendo, pois a sua obra é imortal.
    “Eu acho que vou lutar  para as pessoas saberem que devem gostar de ler”, disse Gelbcke. E ele fez isso: fez palestras, foi à escolas, distribuiu livros, escreveu – e muito bem – e foi lido. Sua marca, sua obra, jamais vai se apagar. Não é por acaso que ele é um dos imortais da Academia Joinvillense de Letras.
E lutou, escreveu muito, escreveu para leitores em formação, sempre tendo em foco a sua determinação de difundir a leitura, de incentivar o hábito de ler. Além de ser um excelente  contador de histórias, Wilson Gelbcke era também pintor, o que permitia que fosse também o autor das ilustrações de alguns de seus livros e enriquecia ainda mais a qualidade do texto. Como artista plástico, que pintava e desenhava muito bem, a sua ilustração favorecia a narrativa, já que ela  estava muito mais integrada à história do que se fosse feita por outra pessoa. E um livro de grande qualidade com esmerada apresentação, atrai as crianças e faz novos leitores.
Wilson Gelbcke escrevia histórias como se escrevia antigamente. “A história tem de ter algo de bom, de bem. Tenho de sentir que tem uma razão nas minhas histórias”. E ele  não abdicou, jamais, do prazer de escrever. “Nada vai substituir o livro. Ele tem essa vantagem: não morre.”, dizia. E tinha razão. Sua literatura permanecerá para sempre.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

LIVRO, ESSA ARMA PERIGOSA


       Por Luiz Carlos Amorim – Escritor, editor e revisor – Cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras. Fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA, que completa 40 anos em 2020. http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br
 
Mencionei, em uma outra crônica recente, que o ano de 2020 não começou muito bem, mas me referia ao mau tempo que vem causando estragos em alguns pontos do Brasil. Mas se olharmos para o estado lastimável em que se encontram a cultura e a educação deste país, entre outras coisas, percebemos que, infelizmente, a coisa chega a ser bem mais grave. No início de  fevereiro, estouraram notícias de censura de livros de literatura clássica e também contemporânea, em Rondônia. Em seguida, a biblioteca da Presidência, em Brasília, foi desmontada para dar lugar a um gabinete da primeira dama do país. Antes disso tudo, o presidente criticou os livros didáticos, dizendo, entre outras coisas, que “Os livros hoje em dia, como regra, são um amontoado de muita coisa escrita”. Os “políticos” brasileiros não têm nenhuma cultura e não fazem nenhuma questão de ter.
   O que está acontecendo? Já não basta o estado de falência da educação brasileira, agora vamos demonizar os livros para que se leia menos ainda do que já se lê, por aqui? E isto tudo partindo das “autoridades” maiores do país, que deveriam zelar pela educação de seus cidadãos, pela manutenção da cultura e da arte para todos. Eles, que são pagos por nós, que estão a nosso serviço, que estão a serviço do povo e deveriam trabalhar para ele, e que fazem justamente o contrário.
   É inadmissível, mas o Estado de Rondônia censurou – ia mandar recolher das bibliotecas, mesmo, mas depois com o clamor do povo, indignado com o retrocesso e falta de respeito, voltou atrás – livros de grandes escritores brasileiros como Mário de Andrade, Ferreira Goulart, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Machado de Assis, Euclides da Cunha e outros e também escritores  internacionais, como Franz Kafka, Edgar Allan Poe. A desculpa? Os livros foram “considerados inadequados para crianças e adolescentes”. Quem serão esses “experts” em literatura do governo de Rondônia que acham que tem competência para refugar obras de grandes escritores e autores de clássicos? Voltamos no tempo, regredimos, ao invés de nos desenvolvermos, de progredirmos? Estamos voltando ao nazismo, à inquisição? É inacreditável.
   E a Biblioteca da Presidência, num país onde o presidente acha que os livros “têm muita coisa escrita”, foi desmontada, porque o “governo” precisava de mais espaço para mais um gabinete para a primeira dama. A Biblioteca da Presidência abriga 42 mil itens, mais três mil discursos de presidentes, pois uma de suas funções é preservar a memória dos presidentes do país. Com o desmonte, a biblioteca presidencial do Planalto terá seus espaços de estudo, convivência e leitura praticamente extintos. Também não terá mais capacidade de aumentar o acervo.
   Mas já no mês de setembro de 2019,  a censura já ameaçava o direito de expressão e da livre escolha dos cidadãos deste país: Crivela, prefeito do Rio de Janeiro, colocou fiscais da prefeitura para percorrer os estandes da Bienal do Livro, que acontecia na Cidade Maravilhosa, para verificar se não havia livros que estavam fora do padrão que eles estipularam. Ou seja: livros que tratassem da temática gay, pois foi o beijo entre dois meninos na história em quadrinhos Vingadores que deflagrou em Crivela a prepotência de censurador. Como disse Mônica Bergamo, “um novo e sombrio tempo se anuncia, da intolerância, da repressão ao pensamento, da interdição ostensiva ao pluralismo de ideias e do repúdio ao princípio democrático”.
   Vivemos tempos bicudos. Mais e mais eventos de violência contra o livro vêm acontecendo neste nosso país. Vamos começar a queimar livros, agora, em praça pública, como em tempos idos que não deveriam ser revividos? Estamos vendo a luz no fim do túnel se apagar. Isso é muito grave. Há que se fazer alguma coisa, pois isso não pode continuar. Livro é uma arma perigosa, sim, mas contra a ignorância, a intolerância e a falta de cultura.