Já escrevi várias vezes sobre plágio, mas de vez em quando
aparece algum fato que traz o assunto novamente à tona. Todos sabemos – ou
deveríamos saber – que “arrumar” ou “melhorar” o texto dos outros não existe.
Não podemos modificar em nada um texto de ninguém, a não ser de nós mesmos. Se
eu for editor e achar que o texto que o autor me entregou para publicar na
nossa revista, por exemplo, não é bom, eu peço outro. Ou, quem sabe, peço para
o autor reescrever, se tiver intimidade para isso. Não vou adaptar, acrescentar
ou cortar trechos para melhorar, pois estarei adulterando uma obra que não é
minha. E isso é plágio. Se alguém altera um texto de outra pessoa, esse alguém
está se transformando em co-autor daquele texto, o que significa que a outra
pessoa não é mais a única autora. O referido texto não tem mais apenas um
autor, tem dois. Se os dois passarem a assinar o texto, ótimo. Mas não é isso
que acontece. Há quem altere o texto da gente, quer publicar o texto adulterado
e quer que a gente assuma sozinho o resultado. Isso é crime.
Isso me volta à cabeça porque fui convidado para participar
de uma pequena antologia que seria publicada em alguns outros idiomas, além do
português. Havia um assunto específico e mandei um poema meu que talvez se
encaixasse no tema. A editora achou que precisava de uns ajustes, que se
suprimíssemos alguns versos ele ficaria perfeito. Aceitei, ela me enviou a nova
versão e, como apenas tivessem saído algumas linhas, sem que quebrasse demais o
sentido, eu aprovei.
No entanto, quando a editora me enviou o poema “editado”, como
ela mesma disse, com a tradução para o inglês, eu me apavorei. Havia
modificações no poema em português que eu não havia aprovado, a tradução para o
inglês estava um desastre: trechos incompreensíveis, trechos com palavras que
não traduziam o que estava no poema, etc.
E eu me reportei dizendo o que não aceitava na “adaptação” do poema
original em português e explicando o porquê.
Ela me retornou dizendo que preferia do jeito que havia ficado, que ela
achava que estava “maravilhoso” assim. Eu então pedi para sair da antologia, já
que eu não podia opinar sobre modificações no meu próprio poema. Ela insistiu
para eu continuar, pediu desculpas e eu propus começarmos tudo de novo
Mandei a minha versão do poema, mandei uma outra tradução feita por pessoa que
fala fluentemente o inglês e também é poeta. A editora agradeceu e eu achei que
estava tudo bem.
Dias depois recebi a “edição” final, com o original e a
tradução para eu aprovar. Só que a tradução estava diferente do que eu havia
mandado. Palavras que foram usadas para manter o ritmo foram substituídas por
outras que não eram a exata tradução do original. O resultado, afinal, não foi
bom, sem contar que modificaram sem me consultar.
O engraçado é que eu não concordei e a “editora” me
respondeu lamentando ter que me “tirar” da antologia. Mas o problema não é
esse, eu já havia manifestado interesse em não participar, mesmo. O caso é que
isso prova, mais uma vez, que algumas pessoas não sabem o que é “edição”, que
isso não quer dizer alterar o trabalho de outros autores ao bel prazer, que só o
próprio autor tem o poder de modificar a sua obra.E não há como confundir este
ocorrido com revisão, que é a correção do texto sem alterá-lo. Alterar o
trabalho dos outros é outra coisa, totalmente diferente. Não podemos alterar,
sob hipótese alguma, um texto que não seja o nosso próprio, repito. Só quem
pode modificar um texto é o próprio autor. Outra coisa: tradução de poema fica
melhor se feita por tradutor que também é poeta. Sob pena de transformar o
poema em prosa.
Não aceite que modifiquem o seu texto. Submeta-o a leitores,
para saber o que acham. Se alguns não gostarem, reescreva-o. Mas não deixe que
ninguém “ajude”, “arrume”, “conserte”. Isso não existe. A história que contei
parece meio absurda, mas sabemos que ela acontece. Tenho toda a série de
mensagens que provam o que houve. Não deixe que ela aconteça com você. Se você
tiver que escolher entre publicar um texto seu adulterado, prefira não
publicar. De que adianta publicar uma coisa que não espelha a sua criação, o
seu estilo?
Boa tarde!
ResponderExcluirComo vai Amorim, estive ausente devido a uma cirurgia mais graças a DEUS correu tudo bem e gostaria de cumprimenta-lo. Espero que este ano de 2014 seja bom para todos nós.
Professora Edna Matos
Oi, professora, que bom tê-la de volta por aqui. Fico feliz em saber que está tudo bem com a senhora. Recebeu o segundo pacote de livros, aquele que tem um exemplar da antologia Varal Antológico?
ExcluirGrande abraço do Amorim
Sim, recebi. Obrigada pelo carinho. Tenho certeza que os livros estão modificando a vida de novos leitores, frutos do projeto Histórias Viajantes.
ExcluirProfessora Edna Matos.