LIVROS PARA TODOS
Tenho escrito repetidas vezes sobre o Projeto Floripa
Letrada, de Florianópolis, que disponibiliza livros nos terminais de ônibus
para leitura dos usuários do transporte urbano. As estantes ficam localizadas
nas plataformas dos terminais e o usuário escolhe o livro para levar, sem
registro ou prazo para devolução. O propósito é deixar que o leitor leve
quantos volumes quiser, mas que os devolva depois de lidos. Isso acontece muito
pouco, mas não é esse o nosso foco hoje.
Eu tenho criticado o fato de que os livros disponibilizados
nas estantes, nos últimos anos, são quase que exclusivamente didáticos. A
crítica, na verdade, não é dirigida às pessoas que gerenciam o projeto, mas sim
ao poder público, que não tem uma verba específica para compra de livros para
prover o projeto. É claro que o município paga algumas pessoas que trabalham na
manutenção do Floripa Letrada – recebimento de doações, organização e colocação
nas estantes. Mas seria interessante que houvesse recurso para comprar livros,
diretamente das editoras, por exemplo.
Então o projeto sobrevive de doações e é por isso que a
grande maioria dos livros que vemos nas estantes são didáticos, técnicos.
Porque esses livros – apostilas - são renovados quase todos os anos, nas
escolas, e as escolas que não os usam mais podem doá-los e as editoras que não
os venderam em tempo hábil também. Os livros literários dependem da oferta de
quem doa. Eu, por exemplo, doei cento e tantos volumes, todos de gêneros
literários, lá no início do projeto. Por isso, não tenho mais para doar.
Outro dia, encontrei a senhora Roseana, pessoa que está à
frente do Floripa Letrada e faz das tripas coração para manter o projeto, para
conseguir sempre mais volumes para colocar à disposição do leitor, sejam eles
literários ou didáticos. Sei que há uma dificuldade, também, para conseguir
veículo que vá até os doadores para recolher os livros, pois quando fiz a
doação esperei semanas até que alguém pudesse vir a minha casa apanhar mais de
uma centena de volumes. E a operária dos livros está sempre batalhando todos os
dias para conseguir uma condução que possibilite o recolhimento de doações.
Então rendo meu tributo a essa lutadora que não deixa o
projeto esmorecer, mesmo que a sua manutenção seja um desafio. É de Roseanas,
Marizas, Ednas, e outros abnegados incentivadores do hábito de ler que
precisamos, para colocar livros no caminho de nossos leitores. É o trabalho
delas que faz com que leitores em formação descubram a magia e o encantamento
dos livros.
Conclamo a todos, escritores e leitores, livreiros e
editoras, que verifiquem o que pode ser doado em seus “acervos” já lidos ou não
vendidos, para poder oferecer mais obras literárias ao projeto, para que dona
Roseana não tenha que colocar quase que exclusivamente livros didáticos,
técnicos e revistas nas estantes do Floripa Letrada. Todo livro que pudermos ofertar
será bem-vindo. E não é necessário acumular muitos volumes, não. Se forem
poucos, basta levar a um terminal onde há o projeto e colocar na parte mais
baixa da estante, pois os organizadores precisam carimbar os livros para que
eles possam ser devolvidos pelos leitores que os levarem. E os leitores, sejam
conscientes, peguem apenas o que realmente vão ler. Já fui abordado no centro
da cidade por pessoa que estava vendendo – sim, vendendo – livros com o carimbo
do Floripa Letrada. Já conversei com dona de sebo que recusou livros que
queriam lhe vender porque tinham o carimbo do projeto.
Sempre temos em casa livros que já foram lidos e que podem
ser passados adiante. Qualquer exemplar de qualquer livro não precisa ser lido
por apenas um ou dois leitores. Eles sempre podem ser lidos por mais e mais
leitores. Então vamos coloca-los em circulação. Se você quiser doar, ligue para
(48) 3251-6100.
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