Por Luiz Carlos
Amorim – Escritor – Http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br
Vi, recentemente, uma matéria sobre o Projeto Floripa
Letrada, que conta com estantes em três terminais de ônibus de Florianópolis,
incluindo o do centro, com livros para que os usuários do transporte público
possam pegá-los, lê-los para depois devolver ao mesmo lugar de onde os levaram.
A matéria mostrou o preposto da Secretaria de Cultura da
capital dando entrevista com uma estante do Floripa Letrada de fundo, onde
alguém acomodava livros, clássicos da literatura brasileira como “Memória de um
Sargento de Milícias”, livros infantis, romances de autores estrangeiros e
outros. A matéria enaltecia o fato de a iniciativa do projeto proporcionar boa
leitura para a população de Florianópolis, inclusive com entrevistas de
leitores.
A intenção do projeto foi muito boa, ele existe há alguns
anos, no início realmente havia livros literários, eu até colaborei com mais de
uma centena de livros. Até porque o projeto vive de doações. Mas a verdade é
que faz bastante tempo só se vê um livro de literatura infantil, brasileira ou
estrangeira, muito raramente. O que tem nas estantes, quando tem, são livros
didáticos – muitas deles defasados – e livros técnicos, também quase sempre
desatualizados. Livros que estão, na sua maioria, novos. Por que livros
didáticos, pagos com dinheiro público pelo Ministério da Educação, não foram
parar na mãos de estudantes da escola pública e agora, depois de ficarem
guardados em algum lugar estão sendo desovados no Projeto Floria Letrada? Posso
dizer isso com segurança, porque uso o transporte público e transito pelas
plataformas do terminal do centro, então vejo quase todos os dias os livros que
estão nas estantes, quando há algum lá. E não são livros literários.
De maneira que ficou meio forçada a colocação de livros de
literatura infantil, de literatura clássica brasileira e de autores internacionais,
apenas para aparecerem na matéria. Acho a ideia muito boa e gostaria que as
estantes estivessem lotadas de bons livros a disposição dos usuários dos
terminais urbanos, mas essa não é a realidade.
A matéria tinha o objetivo de divulgar a expansão do projeto
para as escolas. Torço para que realmente o Floripa Letrada chegue até as
escolas, pois muitas delas realmente não têm biblioteca. Mas não com livros
como os que têm sido disponibilizados nos terminais do centro, nos últimos
anos.
E, frise-se, o desabafo não é com a intenção de acabar com o
projeto. O propósito é, isso sim, sensibilizar os responsáveis no sentido de
arrecadar livros de literatura verdadeiros para os leitores, e não os didáticos
velhos que nem sempre podem ser utilizados, pelas mudanças que são feitas no
nosso ensino, obra de nossos governantes e também pela mudança de ortografia.
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