Meu sobrinho de sete anos, Ramon, saiu-se com esta,
recentemente, quando lhe deram um texto escrito em letra cursiva para ele ler:
“Como é que vocês me dão uma coisa com uma letra que eu não sei ler?”
E ele tinha razão. Ele está sendo alfabetizado pelo sistema
novo que inventaram, há alguns anos, para o ensino fundamental, segundo o qual
a escola começa com as letras “de forma” ou “de livro”. Ao contrário da sistemática antiga, na qual
começava-se pela letra cursiva e só depois das famílias de sílabas, que hoje em
dia já não se usam mais, quando a criança já começava a ler, é que se entrava
com as letras de imprensa.
E, comprovadamente, as crianças têm muito mais dificuldade
para aprender a letra cursiva depois da letra de forma. A maneira que se usava
antes era muito mais prática, tinha uma sequencia que funcionava, mas os donos
do poder, na última década, resolveram “modernizar” a educação brasileira e as
nossas crianças, agora, estão aprendendo a ler e a escrever com oito, nove
anos, por osmose, ao contrário de antes, que era com sete anos.
Então o Ramon tem razão de ficar indignado, pois se
ensinaram para ele primeiro a letra de
forma, que é quase quadrada, com muitos traços retos e poucas curvas, não dá
para esperar que ele reconheça um texto escrito em letra cursiva, até porque,
se ele está no segundo ano, a esta altura talvez essa letra nova, toda cheia de
curvas, grudada uma na outra, como se fosse um trenzinho muito comprido, não
tenha sido apresentada a ele, ainda.
Precisamos que o MEC reveja a nossa sistemática de ensino,
pois não está funcionando. Estão tornando o ensino cada vez mais fraco neste
nosso país, com modificações que deveriam ser para melhorá-lo, mas na verdade o
sucateiam cada vez mais.
E não é só o conteúdo programático do ensino fundamental e
médio que devem merecer atenção do poder público. As escolas públicas precisam
de manutenção, de equipamentos, pois muitas estão caindo aos pedaços,
literalmente, e os professores precisam de qualificação e salários decentes. A
educação precisa de uma reforma de verdade, mas uma reforma que melhore o
ensino público e até o particular, pois as modificações que foram feitas até
agora foram só para encaminhar a nossa educação para a falência.
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