Por Luiz Carlos Amorim (escritor e editor – http://br.geocities.com/prosapoesiaecia - lc.amorim@ig.com.br )
A televisão do nosso estado divulgou, há algumas semanas, o lamentável fato de que a Defesa Civil de Blumenau tinha que jogar fora toneladas e toneladas de alimentos, daqueles que foram doados para as vítimas das chuvas, que aconteceu no final do ano passado. O motivo? A alegação é de que os prazos de validade dos alimentos estão vencidos. Será?
Ninguém mencionou que a maior parte daqueles alimentos foi doada há dois ou três meses, talvez mais, e eles não foram distribuídos. Por quê? Provavelmente não estavam vencidos quando foram doados e se tivessem chegado às mãos de quem tanto necessitava deles, teriam sido consumidos, teriam matado a fome de quem perdeu tudo, perdeu a casa, até o terreno.
Paralelo a isso li, há poucas semanas, notícia a respeito de grupos de desabrigados que estavam passando fome porque os donativos não chegavam até eles. Um absurdo, tantos donativos que não havia onde colocar e pessoas passando fome, precisando de tudo?
E não é só em Blumenau que ainda havia galpões cheios de doações estragando, amontoadas, sem que fossem aviadas para a distribuição. A televisão e a imprensa mostraram roupas, calçados e alimentos abandonados à beira das estradas e em lixões, pilhas enormes de água mineral deixadas no tempo, a céu aberto, até um galpão cheio de doações queimado.
Recentemente, a apresentadora Ana Maria Braga esteve em Blumenau, perguntando o que foi feito com o dinheiro depositado por pessoas de todo o Brasil em contas de bancos fornecidas para arrecadar fundos para a compra de terrenos para as vítimas que haviam perdido tudo, inclusive o chão onde estavam suas casas. Não sei se ela obteve resposta, porque vi o segundo ou terceiro programa em que ela perguntava isso e ninguém aparecia para responder.
Mais recentemente ainda, descobriram em Itajaí toneladas de roupas, calçados e até comida enterradas em lixão, que constataram ser provenientes de doações.
Esta semana prenderam um “comerciante” que, passando-se por padre (e sem o comprovar, claro), pegava doações – roupas, calçados e alimentos - em Ilhota, nos galpões mantidos pela prefeitura de lá, e os vendia em outras cidades. O flagrado declarou, em sua defesa, que pegava os donativos porque eles seriam jogados fora, pela prefeitura, para esvaziar os galpões. Em Joinville, um padre (desta vez de verdade) também fazia bazar para vender donativos e arrecadar fundos para os necessitados da sua paróquia. Como já foi dito, se é doação, não pode ser vendido.
Então, toneladas e mais toneladas de alimentos doados estragam nos galpões simplesmente porque estão amontoados e isso mais o fato de que fez muito calor e havia muita umidade no ar, são condições ideais para que qualquer alimento que não esteja enlatado embolore e até apodreça. Até os enlatados, além de vir a ter a data de validade vencida, armazenado em condições precárias podem ser acometidos de ferrugem, comprometendo o conteúdo.
Alguém, catarinense ou não, doará de novo alimentos, roupas, calçados, dinheiro, para ajudar vítimas do clima descontrolado? Aliás, diga-se de passagem, descontrole causado pelo próprio ser humano, que desrespeita a natureza, não cuida do meio ambiente, poluindo e ocupando áreas onde não se deveria construir qualquer benfeitoria, com a complacência dos poderes públicos.
O fato se agrava quando vemos que as chuvas não aconteceram só em Santa Catarina. Outros estados também tiveram muitas cidades invadidas pela água, o norte e o nordeste estão passando por tudo o que Santa Catarina passou, e o que “sobrou” aqui poderia ter sido encaminhado a flagelados de outros pontos do país.
É vergonhoso termos recebido tanta ajuda e toda essa ajuda não ter sido distribuída, ficando a estragar, no abandono. Destruir toneladas e mais toneladas de alimento com a desculpa de estarem “vencidos” é o cúmulo do absurdo. Por que venceram? Porque a acomodação de quem não estava precisando, de quem detém o poder, de quem estava gerenciando o encaminhamento de tudo o que chegava, de todas as partes, não deixou que muito do que foi doado chegasse até todos os flagelados.
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