Por Luiz Carlos Amorim (Escritor – Http://br.geocities.com/prosapoesiaecia )
Em minha já algo longa trajetória literária, publiquei livros por algumas editoras. Um deles foi publicado por um grande editor, à época, dono da mais importante editora de Santa Catarina. Apesar disso, a distribuição não era das melhores e apenas metade da edição foi vendida. A outra metade ficou no depósito da editora. Vendia pouco porque podia ser encontrado, nos últimos tempos, apenas na livraria da editora. E mesmo assim ficava guardado, era preciso perguntar por ele.
Eu não me importava muito com isso, pois sucederam-se-lhe outros livros e havia que divulgá-los, mostrar os trabalhos mais recentes, que a gente acaba achando sempre mais defeitos nos antigos.
O que me deixou pasmo, recentemente, foi descobrir um fato que jamais me ocorreu fosse possível acontecer. A editora em questão encerrou atividades e o acervo teria sido vendido para ex-funcionários e para um sebo. Quando precisava de um exemplar daquele livro, procurava o sebo que adquiriu parte do acervo e comprava um. Acontece que não estava encontrando mais, o que me deixou encucado, pois o saldo dos meus livros que havia na editora não poderia acabar assim tão rápido. Procurei a livraria de ex-funcionários da editora que havia ficado com outra parte do acervo e consegui uns poucos exemplares, que lá também não havia mais.
Investigando mais adiante, descobri uma história estarrecedora. Os herdeiros do editor (a editora acabou porque o dono havia falecido) teriam picado parte (ou grande parte?) do referido acervo e vendido os livros como papel velho, daí não se conseguir encontrar algumas publicações do vasto catálogo.
Não parece brincadeira de mau gosto? Não teria sido possível ceder os livros para uma biblioteca, para escolas, para quem pudesse distribuir os livros para entidades que pudessem colocá-los à disposição do público leitor?
Não quero acreditar, mas se levarmos em consideração que algumas publicações da extinta editora não são mais encontradas, pode ser que o tal absurdo tenha acontecido mesmo.
Nossos valores estão ficando cada vez mais deturpados, e acho isso, também, um tipo de desumanidade, pois os livros que foram destruídos poderiam ter sido colocados nas mãos de estudantes, de leitores em potencial que poderiam usufruir de algum conhecimento e quem sabe, tomar gosto pela leitura.
E tirar a oportunidade de ser humano de aprender, de absorver conhecimento, de ter uma boa leitura não é desumano? Isso me lembra os donativos enviados a Santa Catarina para as vítimas das chuvas do final do ano passado, jogados fora porque não foram distribuídos.
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