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sexta-feira, 29 de maio de 2009

ESTADO COMPRA LIVROS AO MILHARES E RECOLHE

Por Luiz Carlos Amorim (escritor – http://luizcarlosamorim.blogspot.com/ )

Eu já ouvira alguma coisa na televisão, ontem, mas pela metade. Então hoje, ao abrir o jornal, encontrei a reportagem sobre o livro de Cristóvão Tezza, que foi recolhido das escolas pelo Estado. O livro “Aventuras Provisórias”, que tinha sido comprado pela Secretaria de Estado da Educação e distribuído às escolas estaduais de ensino médio, foi recolhido por conter trechos considerados inadequados a alunos do segundo grau.
Até aí tudo bem, Cristóvão Tezza é um escritor de renome nacional, consagrado, mas se alguma coisa no livro não é apropriado aos estudantes do ensino médio, se o livro é indicado para adultos, que se use bom senso. O autor, catarinense, não precisa mais que o Estado compre tiragens inteiras do seu livro, porque ele vende por si próprio.
O que nos deixa indignados é o fato de a Secretaria de Estado da Educação ter comprado 130.000 (cento e trinta mil) livros, pela bagatela de Cr$ l.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), quando os escritores catarinenses vêm batalhando há quase vinte anos pelo cumprimento da famigerada Lei Grando, instituída pelo próprio estado. Essa lei determina que o estado compre livros de autores da terra, previamente selecionados pela Comissão Catarinense do Livro, para distribuição às bibliotecas municipais catarinenses. A referida lei regula a obrigatoriedade da compra, pelo estado, de 300 (trezentos) exemplares de 22 (vinte e dois) livros publicados por autores catarinenses, a cada ano, adquiridos com 50 % (cinqüenta por cento) do valor da capa.
Então, para cumprir a Lei Grando, não há verba, não coube no orçamento, ano após ano. Mas para comprar cento e trinta mil livros a um milhão e quinhentos mil reais, aí sim, deu. E sem nenhuma divulgação, porque não vi em lugar algum notícia sobre a compra.
E desde quando o estado de Santa Catarina compra livros selecionados para o vestibular, aos milhares, para distribuir aos estudantes da rede estadual de ensino médio?
E não venham usar como atenuante o fato de a Fundação Catarinense de Cultura estar para publicar edital da Cocali, para aquisição de livros de autores catarinenses e posterior distribuição dos mesmos para bibliotecas públicas, começando, assim, a cumprir, finalmente, a lei que já quase completa maioridade, sem sair do papel.
Enquanto o escritor catarinense mendiga o cumprimento da Lei Grando para ter a possibilidade de que o estado compre a sua obra e faça chegar pelo menos um exemplar a cada biblioteca de cada cidade de Santa Catarina, esse mesmo estado compra, silenciosamente, cento e trinta mil livros de uma mesma obra, de um mesmo autor, para cada estudante do nível médio. Livro que em seguida foi recolhido. O que será feito deles? E todo aquele dinheiro pago por eles é imposto pago pelo contribuinte. Que estado é esse? Que educação é essa? Que cultura é essa?
Nada contra o escritor Cristóvão Tezza, um autor que honra a literatura de Santa Catarina, mas há que haver justiça, há que haver transparência e coerência na administração pública catarinense.

Um comentário:

  1. Livro de Cristovão Tezza é proibido em escolas de Santa Catarina
    Maio 28, 2009 at 9:16 pm | In Santa Catarina | No Comments

    A Gerência Regional de Educação da Região Carbonífera, no Sul de Santa Catarina, concluiu nesta semana o recolhimento de 6.236 exemplares da obra Aventuras Provisórias, do autor catarinense Cristovão Tezza. Em todo o Estado, foram recolhidos mais de 130 mil exemplares.

    A determinação partiu da Secretaria de Estado da Educação há cerca de duas semanas. O motivo teria sido o uso de palavras inadequadas, segundo avaliação de professores que tiveram acesso ao título antes da distribuição aos alunos do ensino médio da rede estadual. O conteúdo descreve, por exemplo, trechos de relações sexuais (leia trecho abaixo).

    Segundo nota divulgada nesta quinta-feira, pela secretaria, a “aquisição (dos livros) deu-se pelo processo licitatório nº 088/08 ao custo unitário de R$ 11,75″.

    Arcângelo Nuernberg, gerente regional de Educação na Região Carbonífera, avalia que o ideal seria que os professores fossem preparados para o debate com os alunos do ensino médio — na faixa dos 15 aos 18 anos, na média. Entretanto, ele acredita que o livro não retorne para as escolas. Alguns exemplares ficaram à disposição nas bibliotecas, mas não serão trabalhados diretamente com os estudantes.

    — O livro constava na lista de obras preparatórias para o vestibular ao lado de clássicos como Menino do Engenho, de José Lins do Rego, Melhores Poemas, de Luis Delfino, e Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Acredito que a obra de Tezza não será substituída por outra — disse Nuernberg.

    Assistente diz que vocabulário é chulo

    A assistente técnica pedagógica do Colégio Estadual Governador Heriberto Hülse, no Bairro Próspera, em Criciúma, Maria Gorete da Silveira, considera que o livro de Tezza tem uma boa história e um enredo interessante, que se passa na Ilha de Santa Catarina. Entretanto, classifica o vocabulário “chulo e em alguns parágrafos a relação sexual é abordada de maneira banal”.

    — O vocabulário é exagerado e essas palavras queremos extingui-las da boca dos alunos, banir do ambiente escolar. O aluno não está preparado para receber esse conteúdo — avalia Maria Gorete.

    A coordenadora regional do Sindicato dos Trabalhadores em Educação em Santa Catarina (Sinte), Janete Medeiros, não acredita que o conteúdo do livro enriqueça o vocabulário dos estudantes. E que apesar de ser uma obra de um autor conhecido, premiado e o livro indicado para o vestibular, usa palavreados “baixos”.

    — Se querem moralizar o ensino, é preciso cuidar. O sindicato considerou irresponsável a distribuição desse livro. Houve irresponsabilidade das equipes preparadas para checar a lista. Se leram, e mandaram, é pior ainda — finaliza Janete.

    Diretor avalia que obra é credenciada

    O diretor de Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação, Antônio Pazeto, afirmou que, quando se trata de livros de literatura brasileira, reconhecidos e credenciados em instituições como a Academia Brasileira de Letras e Associação Catarinense de Literatura, eles já têm seu valor literário comprovado.

    Na manhã desta quinta-feira, Pazeto disse que o livro não foi lido antes da distribuição. E frisou:

    — Este livro do Tezza não foi lido antes, reconhecemos. Como o autor é moderno, novo, poderíamos ter lido, mas não lemos. Como em uma gerência um professor observou termos e abordagens que não eram pertinentes ao ambiente escolar, pedimos que quatro professores lessem e nos fizessem uma avaliação.

    À tarde, ao ser novamente consultado pela reportagem, se contradisse:

    — Eu não li o livro. Mas a comissão de avaliação do livro leu e considerou adequado do ponto de vista literário.

    E ASSIM VAI LONGE... Vá no link e leia...

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