Por Luiz Carlos Amorim - Escritor - Http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br
Assisti, novamente, ao filme “Mensagem para você”, uma comédia leve, divertida, quase verossímil. Não que seja um grande filme, mas ele mostra, como cenário do romance das personagens principais, a ascensão de uma livraria e a queda de outra.
Há duas cenas marcantes no filme, pelo menos para mim. A primeira é a visão da livraria tradicional, com dezenas de anos de existência naquele lugar, vazia, no apagar das luzes, no cerrar das portas, depois de ter sido esmagada pela mega-store dos livros que fora inaugurada perto dela. A livraria, com as prateleiras vazias, deserta, apenas com a dona olhando em derredor, relembrando os bons tempos quando vendiam livros para toda a comunidade, é de uma solidão e uma tristeza infinitas. Quase comparável à incomensurável solidão do menino robô de “Inteligência Artificial”.
A outra cena é o oposto da primeira: a dona da livraria tradicional, que tivera a sua casa fechada, visitando a mega-livraria que roubara seus clientes-leitores. Passeando pela seção de livros infantis, ela viu crianças, muitas crianças, algumas de pé nas prateleiras, outras sentadas às mesas, outras sentadas pelo chão, todas folheando livros. A visão daquelas crianças em meio àquela imensidão de livros parecia quase redimir a super-livraria de ter causado a sua queda.
Essas duas imagens me chamaram a atenção por serem antagônicas e ao mesmo tempo semelhantes. Explico: a livraria tradicional, aquela que conhecia todos os clientes, a família desses clientes, vendia os livros para todos da família, desde a criança menor, começando com o livro infantil, praticamente sem texto, contando histórias quase que apenas com ilustrações, passando pelos estudantes, com os livros didáticos e juvenis, até os pais, com os livros técnicos, literários, religiosos, etc. Essa livraria chamava os clientes-leitores pelos nomes, sabia o que cada um gostava e por isso dava um atendimento personalizado, mais que isso, amigável.
Hoje, as mega-livrarias já não conseguem essa quase intimidade com o leitor, mas tem muito mais variedade e espaço para oferecer. É claro que, falando em variedade, deveríamos falar também em qualidade, mas o conteúdo dos livros publicados atualmente é assunto para outra crônica. Quanto ao espaço, há mais conforto nas grandes lojas de livros atuais e elas ainda oferecem produtos diferenciados, como o café, o chá, o lanche, o birô de informática, com internet, etc.: elas se transformaram no que muitos de nós, leitores de carteirinha, esperávamos há muito tempo – ponto de encontro de leitores (e por que não de escritores?) para comentar obras lidas, dar e receber indicações de leitura, trocar idéias, fazer amizades.
Eu ainda preferiria a livraria antiga, aquela em que a gente era amigo do dono, mas reconheço que a evolução pode e deve ser benéfica. Se considerarmos que o livro rompeu a barreira das paredes da livraria convencional e foi se colocar à disposição do leitor nas bancas de revistas (por preços menores!), nos supermercados, farmácias e até nas caixas automáticas, feito jornal, na rua, a transformação pela qual as casas de livro passaram e estão passando é natural.
Uma coisa com a qual continuo não concordando é o preço do livro: ele ainda é um produto – de primeira necessidade – muito caro. Digo de primeira necessidade, porque todos nós precisamos dos livros para estudar, para aprender, para adquirir o conhecimento mínimo necessário desde os primeiros anos das nossas vidas.
Amorim
ResponderExcluirSinto saudades dos meus tempos, de menina, onde frequentava a Biblioteca Pública de Beagá! O motivo: desde aquela época os livros eram produtos "caros" para uma família numerosa como a minha...mas isso não me furtou o prazer da leitura.
Abraços
Regina
www.toforatodentro.blogspot.com
sim,o escritor precisa ficar perto do leitor, (Ninguém ama o que não conhece)vejo por meus alunos que na Feira do Livro ficaram com vergonha de falar como escritor Julio Emílio Braz( leram obras dele,encenaram e ele ainda era algo distante) A escola necessita de escritores visitando, conversando e até doando livros para a biblioteca da escola. Abraços criativos
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