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segunda-feira, 30 de julho de 2012

INÉDITOS DE LAURO


Grata surpresa, tive hoje, ao descobrir resenha sobre minha antologia de contos publicada em 2005, escrita pelo saudoso Lauro Junkes. A esposa do crítico literário catarinense que mais divulgou a nossa literatua está organizando os escritos que ele ainda não tinha publicado e teremos obra inédita dele em breve. Nem pedi autorização e transcrevo abaixo a minha descoberta:

“A LUZ DOS SEUS OLHOS” - LUIZ CARLOS AMORIM


                                                          Por Lauro Junkes

Já por diversas vezes reiterei a opinião de que a literatura, para manter-se com vitalidade, necessita inverter o provérbio que reza “Longe dos olhos, longe do coração”. Como a literatura depende do leitor tanto quanto do escritor – seria inócuo qualquer livro sem leitor para fruir sua beleza – a veiculação de informações e comentários sobre arte literária ou outras artes prepara o ânimo e o espírito receptor dos leitores. Nesse sentido, realmente merece aplausos o idealismo dinâmico de Luiz Carlos Amorim, nascido em Corupá/SC à frente do Grupo Ilha, seja nas edições em papel, seja em páginas eletrônicas.

Nos traz às mãos e aos olhos também uma antologia sua de contos, A LUZ DOS SEUS OLHOS (Florianópolis: A Ilha Edições, 2005), em que o autor selecionou narrativas da sua vasta produção. Primeiro ponto a ressaltar: Amorim é fiel a uma linha narrativa fluente, cronológica, destituída de malabarismos estruturalistas, porque seu alvo – quanto à diegese explorada e ao leitor para quem se dirige – é o universo concreto, cotidiano, constituído por aquelas pessoas que estão sempre ao nosso alcance, quando nos dispomos a abrir de fato os olhos para perceber o que nos circunda. Lendo os relatos desse autor, em grande parte filtrados por um narrador em primeira pessoa, tem-se a impressão de que um repórter observador percorre insistentemente espaços públicos e privados, radiografando nossa sociedade.

Em O Presente de Natal um repórter conversa com crianças sobre o significado dessa data, para além dos presentes e da comercial figura do Papai Noel – o Natal dos ricos e dos pobres, abrangendo tonalidades espiritual e social. Autêntica solidariedade encontrará originais caminhos para, no Natal, tantos discriminados receberem Um Papai Noel para Mim. No conto-título, A Luz dos Seus Olhos concretiza-se a solidariedade plena, quando o próprio narrador compartilha sua visão com uma menina que cegara em acidente. O repórter se insinua em um Jardim de Infância para protestar contra discriminação racial e maus tratos contra os pequenos, sendo também o Preconceito social desmascarado quando um concurso público não gera os mesmo direitos para um deficiente físico. Mas a Fraternidade poderá igualmente desiludir-se, até desesperadamente, como com um trabalhador desqualificado, com esposa e 5 filhos, ou então quando uma desesperada mãe sai em busca de auxílio para A Cura da filhinha doente. O que dizer da Gente da Terra que faz empréstimo junto ao implacável banco e se afunda em dívidas, porque a natureza não corresponde a seus esforços? Entretanto, a solidariedade poderá manifestar-se quando um pobre pensionista solicita Empréstimo para “pagar o médico por fora”(!!) em cirurgia pelo INSS.

Aspecto mais ameno ocorre ao entremearem-se diversas narrativas centradas no “maior amigo do homem”: em Amigos, Amigos, a cachorrinha Diana comprova sua fidelidade ao “alemão” Fritz; outra Diana, adotada após abandono, vai trazer consequências afetivas, e a cachorrinha pincher Minie gera tanta afeição que sua morte faz desejar Um Céu para ‘Dona Menina’.

Situações as mais diversas atraem o olhar sensível para as carências e dores do mundo: a bela e jovem Teresa do Mar perde o controle da razão com o desaparecimento de Pedro pescador no mar; um viúvo poderá ter surpresas, quando, em sua Última Noite, acompanha amigo para uma “casa suspeita”; reações inesperadas poderão evidenciar Pedaços do coração de uma professora de Psicologia, ao receber rosas “pelo Dia das Mães”; inesperado Assalto e despejo poderão acabrunhar a mãe que tenta educar seus filhos; por outro lado, um jovem casal, aguardando condições para ter seu primeiro filho, poderá surpreender-se com A Intrusa criança colocada à sua porta – que reações tiveram? E você faria o mesmo, no lugar de cada um? Quais as consequências e perigos, quando um garoto recebe boa gorjeta para entregar um pacote na Casa do Fina da Rua? Até um noivo poderá praticar um disfarçado Rapto da noiva, visando a obter dinheiro que lhe dê condições para casar e também um namorado poderá experimentar dificuldades para oferecer um Presente que satisfaça os caprichos da amada.

Enfim, desdobra-se em todas as direções o universo diegético de Luiz Carlos Amorim.  Apresentam-se suas histórias envolvidas em forte tonalidade emocional, representam protestos conscientes contra tantas desumanidades geradas em sociedade. No entanto, o autor respeita os fatos da vida cotidiana, retratando personagens, fatos e atos perfeitamente compatíveis com a realidade. A LUZ DOS SEUS OLHOS certamente tornará mais agudo o olhar do leitor sobre a sociedade em que vive.



Um comentário:

  1. Amigo Amorim que resenha bonita! E vinda de Lauro Junkes ganha um toque especial. Com certeza este texto merece ser muito divulgado e entrar numa re-edição da obra resenhada. Existem pessoas que fazem muita falta. É o caso de Lauro na literatura de Santa Catarina. E parabéns a voce que soube merecer tal artigo.
    Abraço da Fatima/Laguna/SC

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