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domingo, 15 de maio de 2011

LÁPIDE PARA MINHAS ÁRVORES

Jacatirão de inverno (manacá-da-serra)

              Por Luiz Carlos Amorim - Escritor - http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/


Os jacatirões de inverno, que por aqui chamam de manacá-da-serra, estão começando a se cobrir de cores, numa florada das mais belas. Então saí para fotografá-los, que estão fantásticos, brilhando em muitos jardins. Até os meus pés de manacá, um ainda bebê – ele é baixinho, tem a minha altura - estão lindos, começando a se cobrir de flores, cheios de botões.
Sei que numa rua perto do apartamento onde eu morava, antes de mudar de novo para uma casa, há vários deles e queria registrar, pois é um espetáculo da natureza que precisa ser eternizado.

Mas fiquei feliz ao lá chegar, pois das várias árvores que existiam – seis delas - algumas já bem grandes, tinham mais de três metros de altura, outras menores, mas nem por isso menos majestosas, apenas duas estavam florescendo, uma com quase metade dos galhos secos. Os pés de jacatirão mais bonitos da cidade estão morrendo, sobram apenas dois e apenas um deles ainda está saudável.

E olhando para o outro lado da rua, meu sorriso foi ficando ainda mais triste e eu fiquei paralisado de decepção: a minha amiga árvore, que ficava na esquina, uma paineira, acho, não estava mais lá. Cortaram-na, rente ao chão, seu tronco estava na mesma altura da minha alegria que desabara, quando vi aquilo. Algum leitor talvez se lembre da minha amiga árvore, que no final do outono dava folga às folhas e florescia esfuziantemente, florescia flores grandes e coloridas e ia cobrindo o chão com suas pétalas, como se fora um tapete para os caminhantes daquela rua.
Não estava mais lá minha amiga árvore, quando voltei para admirar-lhe a majestade, como havia prometido, tão singela e humilde do alto dos seus mais de cinco metros. Não lhe descobrira, ainda, o nome, mas não importava, o que contava era a sua presença, a sua amizade, a doar-se para nós, seus admiradores, em flores e cores.

Não consigo achar uma razão para alguém cortar uma árvore tão bela, que estava num lugar onde não atrapalhava ninguém, pelo contrário: quando não estava florida, era muito verde e viçosa, quando estava florida era uma obra prima pintada pela natureza. Estava numa esquina, num lugar onde não se constrói nada, era o lugar ideal para ela.
Mas cortaram-na. Agora, só a saudade ficou naquele lugar abençoado, tanto tempo ocupado pela minha amiga árvore. Suas flores não voltarão mais, como em todos os outonos.

Saudade de você, amiga árvore. Saudade dos grandes pés de jacatirão que estão morrendo. Mais saudades, para doer outro pouquinho.

Um comentário:

  1. Li seu artigo em um jornal "Cruzeiro do Vale" de minha cidade intitulado: "Frio com Jacatirões".

    Achei lindo! De uma sensibilidade e primosidade incríveis. Sou escritora ainda iniciante, mas quando me perguntam o que me inspira, digo sempre, que não há nada específico, o que me inspira é aquilo que toca o meu coração no momento exato em que minhas mãos ouvem, e então falam ao meu ouvido: "Pega um papel e um lápis, e escreva". As coisas tocam meu coração porque ando pela vida e sinto o mundo de dentro pra fora, sempre fui assim, o que nos leva muitas vezes, a de certa forma sofrer mais, mas que também é o que nos possibilita ver o mundo e não simplesmente olhá-lo. Uma vez escrevi um poema que fala que a "felicidade pode estar em um bando de vacas num pasto..." Ou em outras tantas pequenas coisas, em geral curtas cenas da vida para os outros, mas que para quem tem olhos de ver, é poesia e a graça de viver.



    Quero dizer a você afinal, que nunca vi um Jacatirão, e daqui para frente vou procurar um até poder ver, graças ao que voce escreveu.

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