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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ANTOLOGIAS

Não é de agora que publicar um livro é muito difícil, principalmente para os novos escritores, os inéditos. As editoras não arriscam em autores desconhecidos e edições próprias são muito caras, sem falar na distribuição do livro acabado, pronto, que é um problema à parte. Nos anos 80, valendo-se desse anseio de escritores que não tinham ainda nada da sua obra em livro, mas que queriam ver seu trabalho publicado, fosse em uma edição solo ou em qualquer outra publicação do gênero, apareceram as antologias. As páginas e os suplementos literários, que já eram poucos, foram sumindo rapidamente e os alternativos tinham dificuldades em sobreviver. Havia sido encontrada a solução milagrosa para suprir a falta de espaço no que dizia respeito ao escoamento da produção literária dos novos: as antologias cobravam por página e os “editores” publicavam volumes alentados, com mais de quatrocentas páginas, em alguns casos, e em coleções de quatro ou cinco volumes. Desta maneira, as antologias publicavam centenas de novos escritores, a peso de ouro, com os valores correspondentes cobrados em parcelas, cobrados antes de imprimir o livro, é claro.
Pagava-se para entrar e, em se pagando, publicavam qualquer coisa. Muitas vezes sob a alegação de que se tratava de um concurso, com seleção dos melhores textos, só que todos que enviavam algum trabalho eram selecionados. O resultado era uma torre de babel, com pouca coisa boa e muita coisa de péssima qualidade ocupando a maior parte dos livros.
Falo com conhecimento de causa, pois participei de duas dessas antologias, que passei a chamar de “antologias milionárias”, visto que só eram interessantes para quem as editava.
Para os “editores” era um grande negócio: além de cobrar caro e receber adiantado, eles nem sequer precisavam se preocupar com a distribuição ou venda dos livros: eles já estavam vendidos, pois cada um dos escritores que pagou, antecipadamente, para participar, pagou pela publicação e pela compra de exemplares.
O custo dos livros não chegava nem a um terço do que era cobrado pela participação na antologia. O resto era lucro dos “editores”.
E essa “indústria” das antologias existe ainda hoje. É comum recebermos, em nosso e-mail, “convites” de algumas “editoras” para participarmos de determinadas antologias, com relação de preços por página e número correspondente de exemplares a que se tem direito.
É de se lamentar, pois depõe contra trabalhos sérios que são feitos com sacrifício, com critério e com qualidade. Bem diferente das antologias comerciais e milionárias que, em sua grande maioria, são compostas de textos fracos, sem valor literário: tudo é publicado, desde que se pague o preço.
Alguns grupos de escritores – inéditos, principalmente, mas não apenas eles – estão driblando essa indústria de má fé, reunindo-se em cooperativas, isto é: selecionam o material, calculam o custo e o dividem, proporcionalmente, entre o número de participantes. A edição é dividida entre os autores publicados também proporcionalmente ao número de páginas ocupado por cada um. Não há que haver lucro para nenhum organizador ou editor e os escritores podem reaver o que foi investido com a venda dos exemplares recebidos.
É natural que queiramos publicar o nosso trabalho. Mas precisamos submetê-lo à apreciação de outrem, de preferência pessoas ligadas ao meio, colegas do ofício de escrever, professores de português – a fim de sabermos se nosso texto tem um mínimo de qualidade. Para que não venhamos a cair nas mãos de “editores” que nada mais querem além do nosso dinheiro. A literatura não pode ser reduzida a isto.

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