Ao escrever, ao produzir literatura, o autor espera, com certeza, que o público se manifeste, de preferência, satisfeito com a sua obra. Mas ele tem que esperar – e aceitar, também - as críticas e o desagrado, que o que agrada a um leitor pode não agradar a outro.
Logo após o lançamento do meu segundo livro de contos, recebi vários cumprimentos – verbalmente, por telefone, por carta, por todos os meios, de pessoas que fizeram questão de se pronunciar a respeito, dar a sua opinião. Excelente, pois o termômetro para medir a qualidade do nosso trabalho é o leitor. Passado algum tempo da euforia do lançamento, recebi outras duas ligações que se destacaram e me fizeram escrever esta crônica: a primeira, de uma pessoa que eu não conhecia e que, tendo comprado o livro, ligou para dizer que se identificou com a verossimilhança dos meus textos, que gostou da maneira como abordei a realidade do cotidiano das personagens – personagens que poderiam existir do lado de cá, de fora dos livros. E um outro, de outra pessoa que eu também não conhecia, muito zangada, indignada, até, porque num dos contos havia uma personagem com características e situações que guardavam semelhança com alguém de sua família.
O mais importante disso é a comprovação de que as pessoas estão comprando livros e estão lendo o que compram. Talvez isso não esteja acontecendo, ainda, com a freqüência que desejaríamos, mas já está acontecendo. Se o leitor entra em contato com a gente para comentar o obra, é porque realmente leu o livro. Devagar, com bons livros, com boas aulas de leitura e literatura nas escolas, boas bibliotecas, boa literatura infantil – coisa que com certeza temos em nosso país – e, principalmente, colocando a criança em contato com livros desde muito cedo, vamos conseguindo atenuar aquela história de que brasileiro não lê. Poderia ler mais, se o preço do livro fosse menor, mas existem as bibliotecas municipais, de escolas, de associações, de clubes, existem os sebos e as feiras, existem as coleções de literatura clássica e contemporânea nas bancas, onde ou não se paga nada para emprestar o livro ou se paga bem menos para adquiri-lo.
E se nós, autores, levarmos até o leitor uma literatura que se identifique com ele, que tenha mais em comum com ele, que divida com ele espaço, tempo e costumes, sem que com isso tenha que colocar de lado a criatividade e a imaginação, estaremos colocando o livro mais perto do público consumidor e o distanciando de pseudo-literaturas que grassam por aí.
É verdade que chegar até o leitor não é fácil, pois publicar um livro esbarra em diversos e enormes obstáculos: as editoras publicam quase que exclusivamente autores consagrados, best sellers e “enlatados” (importados). A edição própria é muito cara, pois papel e impressão são itens bastante caros e a distribuição é inexistente.
Resta a democracia da Internet, que tem possibilitado a publicação e projeção de muitos novos poetas e escritores. O meio eletrônico é barato e de fácil acesso. Há também a publicação de antologias pelo sistema de cooperativa, onde os autores se reúnem, dividem despesas, resultados e trabalho: selecionando textos, organizando a antologia, escolhendo gráfica para impressão, fazendo lançamentos e colocando o livro debaixo de braço para oferecê-lo. O preço do custo do livro é dividido entre os autores que publicarão nele e o número de exemplares publicados, idem.
A divulgação dos autores novos ou regionais é muito pequena, os veículos de comunicação não dão a cobertura esperada para motivar o autor a continuar produzindo ou o leitor a procurar ler. Aos poucos, no entanto, esse cenário parece que vai mudar. A Internet, como já dissemos, está aproximando mais o autor e o leitor. Grandes jornais estão conseguindo voltar a publicar cadernos ou páginas que falam de literatura, embora em alguns casos esses cadernos e/ou páginas sejam rotulados de “variedades” ou “cultura”, por abrigarem também outro tipo de arte e as famigeradas colunas sociais ou de fofocas.
As revistas e jornais literários sobrevivem, ainda que as edições impressas tenham diminuído muito – muitos deles têm apenas edição eletrônica ou virtual, o que já é alguma coisa. – o importante é que a publicação exista. Embora nada substitua o papel impresso, obviamente.
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