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domingo, 29 de agosto de 2010

O LUGAR DO POETA ou A INVEJA É UM SENTIMENTO MESQUINHO

Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – http://luizcarlosamorim.blogspot.com

Protelei por muito tempo, não queria falar sobre o assunto, mas não resisti. Li um caderno cultural de um jornal gaúcho, exclusivo sobre Mário Quintana, publicado em homenagem pelo centenário de nascimento do poeta.

Entrevistas, depoimentos de colegas e pessoas que o conheceram, como Bruna Lombardi – a musa, críticas, opiniões, bibliografia, fotos. Lá pelo meio do caderno, num texto sobre qual lugar o poeta ocuparia dentro da literatura brasileira, já o subtítulo me intriga: “críticos e escritores ainda discutem como e onde situar a obra de Mário Quintana: um autor menor, simplista, ou uma presença única, indefinível nas letras nacionais”.

Fiquei surpreso e me senti desconfortável com a dúvida: Quintana, um escritor menor? Simplista? Indefinível? Como cogitar qualquer coisa assim de um escritor como Quintana? Será que, se ele fosse menor, simplista, o Brasil estaria lhe prestando homenagens, publicando livros e livros sobre ele, reeditando toda a sua obra, falando dele em todas as mídias?

Iniciando a leitura do texto propriamente dito, logo no início, passei do desconforto à indignação. O autor do texto, Carlos André Moreno, afirma que ‘...se Drummond foi o claro enigma, Quintana pode muito bem ser a charada obscura”.
E piora. Mais adiante, ele escreve que “a percepção crítica de sua obra oscilou diversas vezes: foi renovador da lírica riograndense, um passadista, um ironista mordaz, um discutível integrante da chamada ‘geração 45’, um poeta menor repetitivo e mesmo uma figura indefinível no cenário das letras brasileiras’.

Fiquei em dúvida quanto a estar lendo aquilo em um caderno publicado para se integrar às comemorações do centenário de nascimento de um poeta da terra, conhecido, respeitado e amado naquele estado, no Brasil e até fora dele.

Mas havia mais. No mesmo artigo, o autor repete a afirmação, estendendo-a a outro poeta consagrado: “Quintana ocupa uma posição instável no cânone da poesia nacional. Às vezes é comparado a Vinícius, como ele poeta de fácil comunicação com o público, às vezes é posto ao lado de João Cabral e Drummond. Em outras ocasiões, tem uma trajetória comparada a de Manuel Bandeira, poeta ora tido como um mestre, ora como um escritor menor. Um dos que se aliam a essa interpretação é o gaúcho Fabrício Carpinejar.”

Em meio a verdadeiras homenagens, encontrei, em outra página do mesmo caderno, um artigo não assinado, onde está escrito que a “... idéia generalizada de que a poesia de Quintana era, em grande parte, igual ao próprio poeta transbordou para o público, de modo que sua imagem, hoje em dia cristalizada – relevante, já que se fala de um escritor que foi, em vida, muito popular – o resume como um único personagem literário: o avozinho benfazejo que peregrinou pela Rua da Praia durante a Feira do Livro, o pitoresco velhinho que morou no Hotel Majestic, autor de “O Mapa”, do “poema do passarinho” e de meia dúzia de outros versos – sempre os mesmos, repetidos à exaustão.”

Ora, fazer essa idéia de um poeta como Quintana é, no mínimo, desrespeitoso. Afirmar que Mário Quintana se resume ao “poema do passarinho” – o nome do poema é “Poeminha do contra’, “O Mapa” e meia dúzia de versos – não é nem meia dúzia de poemas, escreveram meia dúzia de versos mesmo – me parece ingenuidade, para não dizer outra coisa. E de mais a mais, existem poetas chamados “grandes” que não têm sequer um poema conhecido, consagrado, que dirá dois poemas e “meia dúzia de versos”.

Penso que qualquer um de nós, leitores, pode não gostar da obra de Quintana, é natural. Ninguém é obrigado a gostar de nada, ou gostamos ou não gostamos. E não gostar de alguma coisa não significa que essa coisa não presta. O que não pode acontecer é um formador de opinião – se ele tem espaço em um grande jornal para dizer o que quer é formador de opinião – expressar seu gosto particular como sendo afirmação da verdade. Principalmente um “formador de opinião” que não assina o que escreve e com uma visão tão estreita.

Como o próprio poeta já disse, ‘um poeta não é maior nem menor, nem grande nem pequeno. Só há duas alternativas: ou ele é poeta ou não é poeta.”

E ele tem dito!

Um comentário:

  1. Caro Amorim:
    Eu poderia estar por aqui neste momento caindo
    num grande estado de tristeza. E justamente por
    nos fazeres lembrar do que esses senhores resolveram "dedicar" ao Mario Quintana. O curioso é que sequer consegui ficar chateada. O poeta Mario Quintana é apenas Ú N I C O.
    É apenas um sujeito imortal pela obra
    que deixou. E sabe Amorim, não vejo os tais autores como invejosos. Vejo da seguinte forma:
    a)Não sabem o que escrever porque não tem competência para analisar poesia.
    b)Não conseguem oferecer endosso à qualidade da obra de Quintana porque ficam inseguros diante daquele "NÃO" dito pelos "canônicos" da ABL, que, por pura safadeza, naquela época, não quiseram acolher o poeta gaúcho.Abraço. Fatima/Laguna

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