Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/
Numa crônica sobre livrarias, há um tempo atrás, falando sobre a grande variedade de títulos publicados nos últimos anos, deixei para falar do conteúdo dos livros mais tarde, num texto especificamente sobre este assunto.
Um amigo escritor comentava comigo, outro dia, sobre a sua decepção com feiras, bienais e lançamentos: publica-se muito, mas a qualidade de grande parte dos livros é mínima. Divulga-se quantidades cada vez maiores de livros vendidos nos grandes eventos, mas a parcela maior dessas vendas é de livros infantis, vendidos a um, dois ou três reais, sem se levar em conta que muitos desses livros para crianças são aquelas fábulas tradicionais que já não exigem o pagamento ao autor (direitos autorais). Vende-se, também muitos livros dirigidos aos adolescentes, um grande filão com muitos autores escrevendo obras em série.
Outro tipo de livro que se vende muito em feiras e bienais são os esotéricos, de auto-ajuda e até os religiosos. Aliás, descobriu-se, há poucos anos, uma fórmula que é sucesso garantido: combinar fotos, de preferência de animais e crianças, com máximas, pensamentos, ditados populares e/ou citações. Os livros deste tipo vendem como água.
Livros literários parecem ser os que menos vendem. A não ser os de autores consagrados. E a oferta é grande. Há um sem número de livros de autores novos sendo lançados todos os anos e o gênero mais praticado é a poesia – que em sua maioria, é publicado através de edições do próprio autor. Em menor escala existem também o romance, a crônica, o conto, o ensaio. Mas o conteúdo dessas obras nem sempre valem o que se paga por elas. A poesia nem sempre é poesia – há casos em que é apenas prosa colocada em forma de verso – e ruim. Outras vezes há a pretensão de que para se fazer poesia deve-se usar a rima e aí o resultado é desastroso, pois a rima pobre, com um tema mal desenvolvido e um mau domínio da palavra não pode ajudar em nada, pelo contrário. Há, ainda, aqueles que acham que empregar palavras “difíceis”, substituir palavras comuns e inteligíveis por palavras fora de uso, resulta em maior qualidade do seu texto. Este ultimo caso existe tanto na poesia como na prosa, para desgraça dos leitores.
Em se falando do livro literário, o gênero mais popular, mais lido, é o romance, até porque tem mais representatividade, digamos que é tido como padrão, com autores consagrados que vendem pelo próprio nome. E também é um gênero que produz muitos títulos novos todo ano. Como as grandes editoras dificilmente publicam obras de escritores novos, muita coisa sai como edição do próprio autor. E aí reside um grande problema, que é a seleção, a avaliação apropriada para se saber se esta ou aquela obra está pronta para ser publicada, se vai agradar a um mínimo de leitores. Não que as editoras também não cometam erros, pois há livros com o selo de casas publicadoras conhecidas, que pecam por falta de qualidade no conteúdo e que ficam encalhados.
Quando se faz uma edição própria nem sempre o autor entrega os originais para um bom revisor, talvez por inexperiência ou até por segurança em excesso. E isto é fundamental. Também é preciso que os originais sejam lidos por pessoas habilitadas a dar opinião sobre a qualidade do texto, sobre o estilo, linguagem, enredo, se eles estão de acordo ou não.
Porque se não fizermos isso, corremos o risco de gastar dinheiro com a publicação de uma obra que não está madura o suficiente para ir a público. E é o que tem acontecido, e muito, não só nas edições próprias como também nas editoras ligadas ao poder público ou à política. Publica-se “obras” deste ou daquele figurão apenas para engordar currículo, gastando o dinheiro do contribuinte com coisas ruins.
Existem também obras de contos e crônicas de autores que talvez precisassem ler mais e praticar muito mais a sua escritura para selecionar textos que pudessem compor um livro. Sei bem como é porque já cometi este erro. Meu primeiro livro de contos eu nunca teria publicado, se tivesse esperado um pouquinho mais.
Mais do que nunca, temos que saber escolher o que ler. Infelizmente, só poderemos ter opinião formada sobre um livro depois de lê-lo.
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