Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/
As fábulas infantis já foram assunto de uma crônica anterior, por se tratarem de histórias que, em muitos casos, não poderiam ser indicadas para crianças. Por quê? Porque envolvem violência, maldade, desvios de personalidade, etc. Coisas que são empurradas para os pequenos desde muito novos, quando ainda nem sabem ler, através das “historinhas” que lhes contamos ou lemos.
Lembrei-me disso quando fui selecionar algumas cantigas infantis tradicionais para gravar para meus sobrinhos de dois a sete anos.
Algumas delas, como os contos “inocentes” que contamos para as nossas crianças, sugerem tragédias resultantes de violência gratuita. Como em “O Cravo brigou com a rosa / Debaixo de uma sacada. / O cravo saiu ferido / E a rosa despedaçada.” Ou como em “Atirei o pau no gato / mas o gato não morreu, / Dona Chica admirou-se / do berro que o gato deu.” Ou ainda em ”João Cururu / detrás do murundu / levai este menino / pra comer com angu.” E outras mais por aí afora. Existem outras, mas essas valem como exemplo.
Não nego que as músicas são gostosas, são melodias alegres e contagiantes, mas as letras deixam a desejar. Sei que vai haver quem diga que as crianças, tão pequenas, não prestam atenção às letras. Mas crianças, desde bebês, são esponjas que absorvem tudo, que aprendem com uma facilidade e uma rapidez incríveis.
O que podemos fazer é adaptar as letras, contar alguma coisa que não desperte medo nas nossas crianças nem banalize a violência. Sei, não se pode mexer na obra de outrem, é verdade. Mas a maioria destas músicas pertencem ao folclore brasileiro infantil, então já existe variação de região para região na mesma música.
E as modificações para as canções “politicamente incorretas” já aparecem, com as inovações implantadas nas conhecidas canções infantis por professores e educadores aqui de Florianópolis. Vi, há pouco tempo, uma matéria que mostrava educadores de pré-escola, cantando com suas crianças aquelas mesmas famosas canções infantis que mencionamos acima pelo conteúdo aparentemente inocente, embora tendendo à violência, mas com letra reescritas, repensadas. Politicamente corretas, como disseram, termo que eu nem considero muito simpático, embora talvez seja apropriado.
"Atirei o pau no gato" ficou mais ou menos assim: "Não atirei o pau no gato / porque isso não se faz / O gatinho é nosso amigo / Não devemos maltratar os animais / Jamais!" E "O cravo brigou com a rosa..." está sendo cantado assim: "A rosa deu um remédio / e o cravo logo sarou / O cravo foi levantado / E a rosa o abraçou." Não ficou melhor? Transmite uma mensagem positiva e a música continua gostosa e vibrante.
O "boi da cara preta" virou "boi do Piauí" e por aí vai. As crianças gostaram, pois perguntadas pela reportagem, disseram que preferiam as novas versões, como "NÃO atire o pau no gato" e explicaram o porquê.
Não se trata de incentivar o plágio, coisa que combatemos com veemência, mas esse cancioneiro popular é de domínio público, não tem autoria definida ou declarada, por isso as adaptações vão acontecendo com o passar do tempo e em diferentes regiões.
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