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quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O TESTAMENTO DE UM MENDIGO

Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/


Das muitas coisas que mandam pra gente em apresentações do Power Point, algumas valem muito a pena. Acabo de receber o “Testamento de um Mendigo”, de autor não revelado. Quem quer que tenha escrito a poema, tenha sido ou não um mendigo, bateu fundo no coração de cada um de nós. Nós, que reclamamos da vida por qualquer coisinha, que vivemos nos lamentando, que nunca estamos contentes com o que temos.

Precisamos, todos, ler esse poema que tomo a liberdade de transcrever quase na íntegra, para que reflitamos e possamos valorizar mais o que temos. Porque por menos que tenhamos, temos muito, comparado a algumas pessoas que não têm absolutamente nada. Para que possamos pensar em tudo que conseguimos, em tudo que nos foi dado, de maneira que passemos a dar valor a cada conquista, a cada pequena vitória, a cada pequeno sucesso.

O ser humano nunca está contente com o que tem e isso o faz infeliz. Será que se exercitarmos a solidariedade, dividirmos o pouco que temos, não receberemos mais paz e mais felicidade em nossas vidas?

Leia o poema. Não é preciso explicar nada. Só precisamos ler e absorver, assuntar:

“Agora, no fim da vida, / me sinto preocupado, / me pergunto, embaraçado, / se faço ou não testamento.

Pra quem é que vou deixar / se fizesse um testamento, / minhas calças remendadas, / o meu céu, minhas estrelas, / que não me canso de vê-las / quando ao relento, deitado, / deixo o olhar perdido / distante, no firmamento?

Pra quem é que vou deixar / minha camisa rasgada, / as águas dos rios, dos lagos, / águas correntes, paradas, / onde às vezes tomo banho?

Pra quem é que vou deixar / vaga-lumes que em rebanhos / cercam meu corpo de noite / quando o verão é chegado?

Pra quem é que vou deixar / todo o ouro que me dá / o sol que vejo nascer / quando acordo na alvorada? Os meus bandos de pardais, / que ao entardecer, nas árvores, / brincando de esconde-esconde, / procuram se divertir?

Pra quem é que vou deixar / estas folhas de jornais / que uso pra me cobrir? / Meu chapéu todo amassado, / onde escuto o tilintar / das moedas que me dão / os que têm alma boa, / os que têm bom coração?

Pra quem é que vou deixar / o grande estoque que tenho / das palavras “Deus lhe pague”? E todas as folhas de outono / que trazidas pelo vento / vêm meus pés atapetar?

Pra quem é que vou deixar / minhas sandálias furadas / que pisaram mil caminhos / estradas por onde andei / em andanças vagabundas? Minhas saudades profundas / dos sonhos que não sonhei / para quem é que vou deixar?

Pra quem é que vou deixar / os bancos dos meus jardins / onde durmo e onde acordo / entre rosas e jasmins? E todos os raios de luar / que beijam as minhas mãos / quando num canto da rua / eu as ergo em oração?

Pra quem é que vou deixar / meu cajado, meu farnel / e a marca deste beijo / que uma criança deixou / em meu rosto, perguntando / se eu era Papai Noel?

Testamento não farei! / Agora estou resolvido: / o que tenho deixarei / para qualquer outro mendigo / rogando a Deus que o faça / depois que eu tiver morrido / tão feliz quanto eu sou.”

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