Por Luiz Carlos Amorim - Escritor - http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/
Acabo de chegar sessão solene da Academia Sul Brasileira de Letras, que reúne escritores do Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Tomei posse, ocupando agora a cadeira 19, assim como Nereu do Vale Pereira, que ocupa a partir de agora a cadeira 50 e Augusto Cesar Zeferino, que ocupa a cadeira 50.
Uma festa estupenda, num lugar paradisíaco, o Eco Museu. O anfitrião, agora acadêmico da Academia Sul Brasileira de Letras, foi Nereu, que recebeu a todos com enorme simpatia e amabilidade. Os acadêmicos do Rio Grande do Sul, inclusive a presidente da Academia, Olga Maria Dias Ferreira, conduziram a cerimônia de posse e ficaram encantados com a beleza do sul da Ilha.
Transcrevo a segunda parte do meu "discurso":
A publicação de meu primeiro livro – de contos – aconteceu em 1979, quando estava na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, de Joinville. O segundo saiu no ano de fundação do Grupo Literário A ILHA, 1980, também de contos. Edições do autor, brochura, de apresentação bem modesta, mas que tiveram boa aceitação, embora hoje em dia eu não os publicasse. Meu primeiro livro publicado por editora foi “Vida, Vida”, também de contos, no Rio de Janeiro. O segundo foi “Uma Questão de Amor”, poemas, por iniciativa do saudoso Odilon Lunardelli, dono da Editora Lunardelli. Depois vieram outros livros por outras editoras, mas Odilon foi o grande editor do Estado, aquele que dava oportunidade a muitos escritores catarinenses. Aproveito para render aqui a minha homenagem a este grande senhor, que por décadas imprimiu e publicou quase tudo o que se produzia aqui no Estado. Então, não posso deixar de lembrá-lo como um dos mais importantes, talvez o mais importante publicador das letras catarinenses. É possível dizer-se, até, que grande parte do acervo literário de Santa Catarina, nas últimas décadas, passou pelas mãos daquele editor.
Também não posso deixar de homenagear o grande divulgador da Literatura Catarinense, Lauro Junkes, pois foi ele que, desde o meu primeiro livro, apresentou o meu trabalho e falou dele na imprensa. Ele sempre foi considerado um integrante do Grupo Literário A ILHA, pois publicou em nossa revista e sempre difundiu o trabalho do grupo.
É ele o meu antecessor na cadeira 19 da Academia Sul Brasileira de Letras e, na verdade, não sei se mereço ocupar o lugar que já foi ocupado por tão importante figura das letras catarinenses.
Lauro foi um incansável leitor e pesquisador da literatura que se produziu, nas últimas décadas, nesse estado Catarina, além de resgatar a obra de grandes escritores da terra, como Cruz e Sousa, Luiz Delfino e tantos outros.
Foi o porta-voz da literatura catarinense, o homem que dedicou grande parte de sua vida a apreciar e avaliar os novos escritores da terra, revelando novos talentos e valorizando cada nova obra que aparecia.
Ele era a sentinela sempre atenta, tomando conhecimento de tudo o que se escrevia em Santa Catarina, para registrar, publicando sua apreciação para que o público leitor também ficasse a par.
Lauro Junkes era a literatura catarinense personificada. Ele não era, simplesmente, um crítico literário: era um apreciador, um incentivador, um motivador da cultura em nosso estado.
Outra grande saudade é o poeta Mário Quintana, patrono da cadeira 19, com quem Lauro foi se juntar, para prosearem, os dois, sobre poesia, quem sabe?
Quintana dizia que, quando morresse, ele “queria apenas paz para endireitar alguns poemas tortos. Levaria junto apenas as madrugadas, por-de-sóis, algum luar, asas em bando, mais o rir das primeiras namoradas”.
Quintana partiu para um nível superior onde as mortes são registradas como nascimentos, acreditava. Foi encher o céu de poesia. Com certeza estará fazendo poesia em parceria com Coralina, Pessoa, Drummond e batendo papos literários animados com nosso querido Lauro.
Aliás, tornar a poesia conhecida e apreciada era com ele mesmo. Foi ele que, com talento e afinco, levou a poesia para as páginas de jornal, popularizando-a, através “Do Caderno H”, que assinava no Caderno de Sábado, do Correio do Povo de Porto Alegre.
E por falar em Porto Alegre, a cidade nunca mais foi a mesma depois que o poeta fez uso de suas asas – Érico Veríssimo é testemunha: “...descobri outro dia que o Quintana, na verdade, é um anjo disfarçado de homem. Às vezes, quando ele se descuida ao vestir o casaco, suas asas ficam de fora.” – e subiu para o andar de cima. A feira do livro gaúcha, a mais tradicional do Brasil, da qual o poeta era a presença mais ilustre, a representação viva de um grande evento, continua firme, talvez até por isso, para cultivar e imortalizar o símbolo maior daquela festa de cultura.
Ofereço a Quintana, em homenagem, as flores do jacatirão, que começam a desabrochar, com a proximidade do verão. E as borboletas, que habitam o meu pequeno jardim e que botam ovos nas minhas folhas de couve e dão origem a dezenas, centenas de larvas que devoram tudo e deixam só os talos, mas eu nem ligo, porque sei que dali sairão os poemas esvoaçantes e coloridos, pequenas obras primas da natureza que me lembram o poeta “passarinho”.
Amorim ficamos felizes compartilhando esta alegria. Voce vem plantando e cuidando das sementes e por certo os frutos virão.
ResponderExcluirPor motivos que não pudemos viajar estaremos numa outra solenidade pois, tenho certeza, outras posses, dessas que fazem bem a alma, virão para você! Abraço carinhoso da Fatima/Laguna/SC
Belo discurso! Parabéns! Eu como fã incondicional de Mário Quintana, posso dizer que a cadeira 19 é merecimento seu!
ResponderExcluirAbraço
Karine