Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/
Dia desses, estava num grupo de pessoas falando sobre livros, leitura e leitores e em se falando disso, a realidade indisfarçável não pode deixar de vir à tona: lê-se muito pouco no Brasil. O brasileiro lê pouco. Aliás, até fora do Brasil o brasileiro lê pouco. Nossa amiga batalhadora das letras, catarinense radicada na Suiça, Jacqueline Aisenman, com o sucesso da sua revista literária eletrônica Varal do Brasil, mais as antologias, que divulgam a literatura brasileira pelo mundo afora, resolveu abrir um livraria com títulos em português em Genebra. Uma livraria com livros de autores brasileiros, primordialmente, para leitores brasileiros, para a colônia brasileira que, como Jacqueline, vive na Suiça. Pois teve que fechar depois de alguns meses, pois os brasileiros que vivem lá também não compram livros.
Então há que se fazer a pergunta que não quer calar: o que é preciso para incentivar o hábito da leitura, para fazer com que o brasileiro leia mais, que se interesse mais pela literatura? O consenso foi que o preço do livro, a falta de bibliotecas, o pequeno número de livrarias existentes no Brasil não são, exatamente e exclusivamente, os culpados disso. A educação em nosso país é que é deficiente, não está fazendo o seu papel como deveria.
A educação brasileira está num processo crescente de deteriorização: o sistema de ensino sofreu mudanças, nos últimos anos, que ao invés de melhorar o aprendizado do primeiro e segundo graus, complicaram métodos que estava funcionando até então. A alfabetização, no primeiro grau, no sistema antigo, possibilitava que os alunos aprendessem a ler e escrever no primeiro ano. Hoje, com alterações equivocadas, existem crianças no terceiro ano – considerando-se que foi aumentado um ano do ensino fundamental, com a inclusão do pré – e até no quarto que não conseguem dominar, ainda, a leitura e a escrita. Os professores são mal pagos, falta treinamento, qualificação, as escolas não são equipadas com o mínimo necessário, muitas vezes, para os professores trabalharem, faltam escolas e das escolas existentes algumas estão caindo aos pedaços. Falamos da escola pública, mas o rendimento da escola particular também não é dos melhores.
Constata-se, não é de hoje, que a educação, neste nosso Brasil, está caminhando para a falência, infelizmente. E não está se fazendo muita coisa para mudar isso. Se a escola não melhorar, se a educação não tiver mais qualidade, essa lacuna que é a falta de tempo, a impossibilidade de incluir aulas de leitura e interpretação no conteúdo programático, para incutir o gosto pela literatura em nossos leitores em formação continuará.
E nossas crianças, nossos estudantes crescerão sem estímulo para a leitura, crescerão sem gostar de ler e, além de não comprar livros, entrarão na vida adulta e enfrentarão o mercado de trabalho sem qualificação para conseguirem um bom emprego. E, consequentemente, não terão uma boa renda, o que os impedirá de comprar bons livros.
É uma bola de neve: se os pequenos leitores em potencial não aprenderem a gostar de ler, não terão muito gosto pelo estudo, pois estudar significa ler, o que significa também que terão que trabalhar mais e ganharão menos, tendo menos tempo e dinheiro para boas leituras. E não saberão nem aproveitar oportunidades mais baratas, como as bibliotecas e sebos que existem. E os filhos deles terão o mesmo destino, pois em casa que não tem livro, crianças não poderá gostar de livros, pois não se gosta de uma coisa que não se conhece. E a bola de neve continuará rolando.
Não é uma nova descoberta, mas a verdade é que precisamos de mais atenção e mais dedicação do poder público pela educação, para que ela seja recuperada. Se não tivermos uma educação decente, nossas crianças não serão adultos que gostarão de ler e a maldição, aquela que reza que “brasileiro não lê”, continuará a rondar nosso país. De maneira que a solução para que se leia mais é, mais do que tudo, uma educação de qualidade. Precisamos cobrar isso de nossos governantes. Antes que seja tarde demais. Existem professores dedicados e abnegados, em nossas escolas públicas, que apesar das dificuldades e do pouco reconhecimento, são exemplos, ao mostrar como fazer para que nossas crianças gostem de ler. Como a professora Mariza Schiochet, em Joinville.
Amorim , muito obrigada!! A leitura é a porta aberta para o saber e formar um cidadão crítico e atuante. Obrigada por vocês escritores existirem e promover a leitura e a cultura. Abraços criativos.
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