Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/ Foi uma coincidência e tanto,mas é assim mesmo que as coisas acontecem. Urda, minha amiga-irmã escritora de Blumenau me falava, outro dia, com entusiasmo e admiração, de um escritor confrade seu, da Academia Catarinense de Letras. E eis que senão quando, eu havia enviado a nossa revista literária A ILHA e um livro meu e ele havia contatado comigo através de um e-mail, dizendo que tinha gostado do conteúdo da publicação e do livro.
Se Urda gostava dele, não havia dúvida de que era boa pessoa. Então respondi, mandei outros livros, e pedi a ele que me enviasse alguns seus, pois eu tinha apenas dois. Falo do escritor Júlio de Queiroz, que eu não conheço pessoalmente ainda, mas isso não vai demorar a acontecer, pois ele me mandou fotos do seu jardim japonês e me convidou a conhecê-lo.
Então comecei a mergulhar na obra do excelente escritor. Já li dois livros de poemas, “Sementes do Tempo” e “Baú de Mascates” e estou impressionado. Livro de poesia a gente pode ler aos pedaços, mas os livros mencionados eu comecei e não pude parar até terminá-los. A poesia de Júlio não é o feijão com arroz com o qual estamos acostumados. Não é à toa que Dom Hildebrando de Melo, na orelha de “Sementes do Tempo”, diz que o poeta lhe lembra Mario Quintana: seus epigramas “críticos, elegantes, jamais amargos – seu desvendar de alma se insere na mais genuína tradição da poética cristã”.
Trata-se de uma poesia singular, abordando temas por vezes não comuns na poesia, de maneira única, aguçando a curiosidade do leitor, atiçando-o a acompanhar o poeta para ver aonde ele vai levar-nos com aquele ritmo cadenciado e musical, com aquelas figuras belíssimas e originais, com aquele conteúdo profundo, mostrando-nos a realidade e a existência humana por ângulos os quais não nos tinha sido dado ver, ainda.
É difícil, para mim, apontar este ou aquele poema, pois verdadeiramente todos os poemas de Júlio são grandes poemas e merecem destaque. Mas uma coisa me chamou a atenção: nunca gostei de poemas encadeados, série deles sobre um mesmo tema. Mas nosso poeta faz isso e faz muitíssimo bem. A gente lê o primeiro, que nos encanta, e já pulamos para o segundo, para verificar que o autor consegue se superar, e assim sucessivamente. Aconteceu com a série “Vocabulário inicial do infante”. São cinco poemas. O primeiro começa assim: “Primeiramente, as coisas não me são nada. / Depois da expulsão da água morna – minha única saudade -, / um ser macio, de cinco pontas, / cheio de vida cuidadosa e tateante, / quase sempre acompanhado de um outro, tão lhe igual”... Um verdadeiro tributo à boa poesia.
Outra série grande de poemas, com versos sentidos e doloridos é “”Simetria Quebrada”, dedicada a Sílvio, filho de Júlio falecido em 92, poderia ser apenas uma coleção de poemas tristes, mas não é: são canções de amor, de carinho e de saudade. Um pequeno trecho que não dá a idéia da grandiosidade dos poemas em homenagem ao filho: “Meus vivos são sempre tão vivos, / tão palpitantemente fogo forte, / que, ao morrer, levam de roldão / suas vidas, muito do meu riso / e, de mim, sempre uma parte.”
Já comecei a ler dois livros de contos, “Deuses e santos como nós” e “Encontros de Abismos” e a maestria na arte de escrever é também cativante na prosa. E há, ainda, romances, ensaios, muitos outros livros para eu continuar a descoberta deste magistral Júlio de Queiroz.
Quisera ter começado a ler antes a escritura deste grande autor.
Amorim, não tive o prazer de ler os livros do Julio,mas participei de um encontro com escritores e professores e fiquei extasiada do carinho e amor que elas tinham por ele. Parabéns, por encontrar um homem maravilhoso como o Júlio . A nossa literatura com certeza está feliz com o encontro de Amorim e Júlio. Abraços fraternos.
ResponderExcluirSou professora, e moro no Paraná. Sou feliz por aos meus 21 anos conhecer o trabalho do professor Júlio, entrei em contato com ele logo após ler "Encontros de abismos", ele carinhosamente me respondeu e também me enviou foto de seu jardim, além de outroas obras. Feito o convite, me desloquei até Santa Catarina para conhecê-lo. Ele realmente é sensacional.
ResponderExcluirPois então, Cássia. Então você sabe bem do que falo. "Encontros de Abismos" é um dos melhores livros contemporâneos. Grande abraço.
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