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domingo, 23 de janeiro de 2011

GAROAS E TEMPESTADES

Por Luiz Carlos Amorim - Http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br

Li a crônica da última quinta-feira da minha amiga Mary Bastian e não posso deixar de registrar que li e que gostei imenso da forma como ela partiu de um poema de Quintana para falar das chuvas intensas que se abateram sobre Santa Catarina nessa terceira semana de 2011.
Que Quintana é o meu poeta favorito, seguido de Coralina e Pessoa, todo mundo sabe. Mas sou também fã de carteirinha da minha amiga Mary, cronista de mão cheia. Ela, magistralmente, sacou de um pequeno/grande poema dos mais singelos e ao mesmo tempo mais profundos do poeta passarinho e num dedilhar de teclado rápido, lá estava a crônica homônima do poema, “Canção da Garoa”. Falando de anjos molhados, chuva no telhado, soluços... e de chuvas torrenciais, do descaso do ser humano para com o meio ambiente, para com a natureza, desta mesma natureza se rebelando contra o pouco caso de nós, filhos dela, Mãe Natureza, a quem deveríamos respeitar e proteger.
E ela fecha assim a crônica: “Espero que em cima do meu telhado haja um anjo todo molhado, aí vou convidá-lo pra entrar, secar suas asas, dar um cafezinho e ouvi-lo tocar no seu flautim uma musiquinha mais alegre. Sem soluços.” Só a Mary, com toda a sua sensibilidade e lirismo para ter uma visão assim, para alegrar o anjo triste encharcado de chuva.
Para quem ainda não conhece, transcrevo “Canção da Garoa”, de Quintana, uma das obras primas dele: “Em cima do meu telhado, / Pirulin lulin lulin, / Um anjo, todo molhado, / Soluça no seu flautim. / O relógio vai bater; / As molas rangem sem fim. / O retrato na parede / Fica olhando para mim. / E chove sem saber por quê... / E tudo foi sempre assim! / Parece que vou sofrer: / Pirulin lulin lulin...”
Pena que nossa chuva, sem anjo e sem flautim, chove do jeito que está chovendo e sabe por quê. E nós também. Obrigado, Mary, por nos fazer refletir um pouco sobre o que está acontecendo, com a ajuda de nosso grande Quintana.
Os administradores de nossas cidades deveriam ler a sua crônica para se conscientizarem de que é preciso fazer o seu papel, qual seja impedir que se construa em áreas de risco, para que a natureza não tenha que lhes mostrar que não fizeram seu trabalho direito. A natureza não é culpada pelas tragédias climáticas que estão acontecendo. Nós, seres humanos, é que provocamos tudo, envenenando o ar, o meio ambiente, a água, a terra e o mar. Nós poluímos tudo. E é hora de parar, ou as forças da natureza continuarão se rebelando e a vida humana cessará de existir na face da Terra.

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