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sexta-feira, 18 de março de 2011

CRUZEIROS & CRUZEIROS

Por Luiz Carlos Amorim – Escritor – http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br/

Depois que me aposentei passei a viajar de navio. Já fui para a Bahia, para Buenos Aires, para as praias do litoral de São Paulo e Rio, para a Europa. Viajava quase sempre pela mesma companhia, mas este ano decidi mudar, para ver se muda alguma coisa.
E muda. Fui para Argentina e Uruguai com a Costa Cruzeiros, mas não gostei muito, não. Já tinha lido e ouvido algumas reclamações, mas preferi comprovar.
De cara, no terminal marítimo de Santos, antes de embarcar, não gostei do tratamento dado aos novos clientes Costa. Chegamos de manhã bem cedo a Santos e eu fui o primeiro a pegar a senha para o pré-chek-in no balcão da empresa. Perto do meio dia, quando começaram a chamar para embarque, pensei que seria um dos primeiros a ser chamado, no entanto foram chamando várias senhas e eu fui ficando para trás. Expliquei a um atendente que eu havia pegado a primeira senha, mas ele me explicou que os que estavam sendo chamados eram clientes preferenciais, e como eu era um cliente novo não adiantava ter sido o primeiro a fazer o chek-in. Quer dizer: o cliente novo é de segunda, terceira categoria e deve esperar mais?
Depois de embarcado, algumas coisas que foram aparecendo foram depondo contra a companhia. A comida nos restaurantes a la carte até que não era ruim, mas os cardápios poderiam ser um pouco mais diversificados. E o atendimento era um pouco difícil, pois nosso garçom era filipino e não entendia quase nada de português, então a gente pedia uma coisa, apontando o item no cardápio, mas vinha outra coisa. Houve noite em que o jantar demorou duas horas. O restaurante self-service também não tinha uma oferta tão ampla, aquém dos outros navios que já pegáramos. E se não fôssemos bem cedo para o café da manhã, já não havia mais leite quente, nem suco. Algumas coisas terminavam e não eram repostas. As máquinas de café secavam e eram fechadas. À tarde, ou no final da tarde, não havia onde comer quando voltávamos para o navio. Pelo menos nos dias em que a gente descia para passeios, os locais de self-service deveriam estar funcionando, mas o máximo que se conseguia era pizza. E só.
O atendimento, de uma maneira geral, deixava a desejar, mesmo quando os atendentes eram brasileiros. Nos bares atendiam a gente de maneira seca e até vendiam uma coisa por outra, pois não gostavam de dar explicações. Tivemos bons atendimentos da nossa camareira e de uma moça brasileira que atendia no teatro e nos salões de baile.
Ficamos sabendo, no final do cruzeiro, a provável causa do mau atendimento por parte dos trabalhadores do navio. A gorjeta, que é obrigatória e a gente paga quando compra o cruzeiro, não é entregue pela gente quando termina a viagem, como em outras companhias. A própria Costa se encarrega de acertar com os colaboradores. Acontece que há um questionário de “satisfação” do cliente, que é entregue no final e eles pedem que a gente não economize na nota, que procure dar “excelente”, porque só assim a tripulação que nos atende será “beneficiada”. Soube que esse “benefício” é o repasse ou não da gorjeta que a gente paga e que deveria ir para quem trabalha lá dentro atendendo a gente, como garçon, camareiro, chefe dos garçons, etc. O pessoal só ganha a gorjeta se o hóspede der “excelente” em tudo. Então, como nem todo mundo dava excelente de conceito no tal questionário, cada vez os trabalhadores recebem menos da gorjeta que nós pagamos para a empresa – ou não recebem - e cada vez eles ficam mais indignados, daí o mau humor que a gente via. A Costa ganha de qualquer jeito: se damos só conceito “excelente”, ela se sai bem porque pode usar como propaganda o fato de ter sido qualificado com atendimento excelente. Se não, a grana da gorjeta fica com eles e eles têm mais lucro.
O sistema de crédito no cartão, para se gastar ou pagar as coisas no navio, como bebidas, compras nas lojas, etc., também é diferente de outras companhias. Se for em dinheiro, a partir do momento que o crédito acabar, o cartão é bloqueado e não se pode comprar mais nada. É preciso ir à recepção fazer outro crédito. Em outros navios, a gente continuava comprando e pagava no final.
Duas ou três coisas eu gostei muito no navio da Costa: o atendimento para crianças foi ótimo, o clubinho onde eles ficavam com animadores sem os pais se preocuparem, os vários salões de dança e as piscinas e jacuzzis. Havia até um toboágua no navio, que ficou aberto só um ou dois dias naquela viagem.
Mas por falar no final, para coroar tudo, na última noite eu fui à recepção e pedi para liquidar a conta. Eles me apresentaram a fatura, paguei e fiquei tranqüilo, não precisava me preocupar em enfrentar filas pela manhã, antes de desembarcar. Qual não foi minha surpresa, na manhã do desembarque, quando me chamaram pelo sistema de som para comparecer à recepção para acertar a minha conta. Fui lá e mostrei a fatura paga, mas o atendente me mostrou que a pessoa que havia me cobrado deixara quatro dólares para trás. Não conseguiu me explicar porque não cobraram os quatro dólares na noite anterior, pois a conta não fora modificada daquele momento em diante, eu não gastei mais nada no cartão, até porque não tinha crédito.
E ficou por isso mesmo.
Então, por tudo isso, Costa, nunca mais. Houve outros senões, como ter que pedir para a central do navio para obter um sabonete depois que o que havia no banheiro acabou. A camareira não tinha para fornecer, era necessário o próprio hóspede solicitar. Mas deixa pra lá. Não volto mais e não recomendaria, jamais, a nenhum amigo.

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