Por Luiz Carlos Amorim - Escritor - Http://www.prosapoesiaecia.xpg.com.br
A figura do escritor foi e ainda é, para as crianças que estão começando a descortinar o infinito horizonte da palavra, algo inatingível, meio mágico, talvez mítico. Isso, dito por elas mesmas. A criança é naturalmente curiosa, sedenta de conhecimento e experiência, e ficar cara a cara com um escritor, conheça ela a obra dele ou não, é um acontecimento no mínimo singular. É claro que se ela tiver lido algum texto, algum livro do autor que lhe for apresentando, o interesse pode ser maior. Descobrir que o escritor é alguém igual a ela, uma pessoa comum que tem o dom da palavra, pode ajudar a criança e perceber que ela é capaz de ser o que ela quiser.
Já fui convidado várias vezes para dar palestras e entrevistas a estudantes do primeiro e segundo graus e sei bem da reação e da receptividade deles. Eu prefiro dizer que fui conversar com os estudantes do que “dar palestra” e prefiro, também, conversar com o primeiro grau, porque a criança é mais espontânea, participa mais, tem mais interesse do que o adolescente e o jovem, que têm receio de se expor. O “palestrante” escritor não precisa preparar nada, pois as crianças, os estudantes perguntam, querem saber sobre tudo: o processo de criação, a seleção, o controle de qualidade, a edição, a publicação, a venda – desde o início, da produção do texto, seja ele poesia ou prosa, até chegar às mãos do leitor. E o resultado disso, o impacto tanto no leitor como no autor. Quando as perguntas terminam, pedem autógrafos, mostram sua própria produção, pedem dicas.
Essa integração entre o escritor e a escola é desejável e existe, em algumas escolas. Não com a freqüência e na quantidade de escolas que gostaríamos, mas existe. Oficialmente, existe um projeto chamado Programa Autor/Escola, que foi lançado há alguns anos em Santa Catarina e chegou a acontecer de fato por algumas poucas vezes. No entanto, o que existe hoje são iniciativas isoladas de escolas, professores e alguns escritores, em uma outra cidade.
O objetivo do programa Autor/Escola era ótimo. Foram cadastrados alguns poucos escritores de fora da capital, mas das poucas edições que aconteceram, participaram quase que somente aqueles mesmos nomes de sempre, figuras carimbadas da “literatura oficial”, que parecem não se renovar nunca, porque ninguém consegue adentrar a “panelinha”, condomínio fechado dos “grandes” literatos de plantão. Apenas um ou outro nome que não pôde ser descartado pela qualidade da sua obra, também conseguiu participar do projeto. Por isso talvez não tenha vingado.
O programa visava promover o estudo da vida e obra do escritor catarinense contemporâneo, a ser desenvolvido na rede estadual de ensino de primeiro e segundo graus, com a presença dos autores designados com antecedência, para cada edição do evento, orientado pela Fundação Catarinense de Cultura, com o apoio de prefeituras, associações culturais, meios de comunicação, editoras e livreiros.
Os professores das escolas abrangidas pelo programa tinham prazo de dois a três meses para estudar os autores convidados – bibliografia, textos (livros), referências críticas e informações biográficas.
Infelizmente, apesar dos bons objetivos, do incentivo à leitura junto aos leitores em formação e da divulgação do escritor regional, o projeto apenas vem à tona, de tempos em tempos, com promessas de reativação que nunca se cumprem. O que existe de concreto é o trabalho dos bons professores de Português e Literatura, que convidam escritores de suas respectivas regiões para comparecerem as suas escolas.
Os escritores do Grupo Literário A ILHA são testemunha de que essa tentativa de valorizar a literatura regional é eficiente, pois vários deles são convidados a falar sobre a sua vida e sua obra em escolas de algumas cidades do norte do estado. Independentemente da “cultura oficial”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário