Por Luiz Carlos Amorim - Escritor - Http://br.geocities.com/prosapoesiaecia
Já falei, em uma das minhas crônicas, da minha amiga árvore, que florescia no inverno, majestosamente, a uma quadra do meu apartamento, na grande Florianópolis. Pois é. Já haviam construído um sobrado no meio do caminho (entre a minha janela e ela) e eu conseguia ver apenas a sua copada florida, não dava mais para vê-la de corpo inteiro.
Na estação de floração seguinte começaram a erguer mais um andar no sobrado construído bem na direção da minha amiga árvore da qual não sei o nome. Dali para a frente, não poderia mais ver, da janela do meu apartamento, a minha amiga árvore feliz, a balançar seus galhos coloridos como se estivesse acenando para mim.
Mas não faz mal. Eu ia mesmo vender meu apartamento e, nos próximos invernos, iria visitá-la. Quedar-me-ia ao pé dela e a admiraria, conversaríamos e agradecer-lhe-ia, mais uma vez, por existir, por oferecer sua beleza incomensurável sem pedir nada em troca.
Continuaríamos amigos e, mesmo estando longe dela, estaria feliz, por ter voltado a viver em uma casa, como vivi a maior parte da minha vida.
Eu nunca havia morado em apartamento, mas mudei de cidade por circunstâncias alheias a minha vontade, que agora até agradeço, e tive que viver num deles. Mas uma casa é mais lar, pelo menos para mim.
Morei em várias casas, desde criança. Lembro-me de que na segunda casa na qual moramos, em Corupá, havia um quintal grande com muitas árvores. Eu era quase adolescente e podia subir nelas para colher os frutos de jabuticabeiras, laranjeiras, cerejeiras, pessegueiros, goiabeiras. Colhia também tangerinas, nozes e até uma frutinha de nome diferente, a grumixama, parecida com uma goiaba, mas do tamanho de uma jabuticaba ou de um araçá e de cor bem escura, quase preta. E saborosa, muito doce.
Tenho saudade daquela infância farta de natureza, das cores e dos perfumes das flores das laranjeiras e dos pessegueiros.
No inverno, além das touceiras vermelhas de azaléias, tínhamos a beleza singela e perfumada dos pessegueiros. As folhas sumiam das árvores que mais tarde penderiam com pêssegos deliciosos e seus galhos e troncos ficavam cobertos de flores brancas oscilando para tons de rosa. E o perfume enchia o ar.
Hoje, vejo poucos pessegueiros. A cidade quase não os têm. Gosto voltar a Corupá, e ver a beleza da florada do pessegueiro e sentir o perfume delicioso que se espalha mansamente pelo ar. Para matar a saudade e encher os olhos dessa beleza que a natureza renova a cada inverno.
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